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Opinião Crónica: (In)disciplina - por Jorge Costa

1/05/2018 às 00:00
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Antes do 25 de abril de 1974, no primeiro processo disciplinar de uma das escolas do Concelho de Abrantes, foi aplicada uma “penalidade” a uma aluna e a um aluno, ambos de 12 anos, de suspensão desde o início de abril até ao final do ano letivo (na realidade tratou-se de uma expulsão). O motivo foi o facto de uma pessoa “idónea” os ter visto a darem um beijo, no caminho para o Rossio. Nesse mesmo processo, outro aluno teve a “penalidade” de suspensão por 15 dias, porque viu e não denunciou.

Em 1975, numa escola do Concelho de Abrantes, num dos textos, que se tornavam públicos porque eram lidos a todas as turmas quando se aplicava uma “penalidade” por processo disciplinar, dizia-se “… se é difícil alterar de um dia para o outro as estruturas do nosso ensino e tornar bom o que foi péssimo durante muitos anos, se é difícil alterar um ensino fascista num ensino democrático, é menos difícil tornar um aluno parasita num aluno que pretende, na verdade, estudar e trabalhar. O aluno parasita, mal educado e oportunista, hoje, não tem lugar na sociedade que todos pretendemos, é um traidor à Revolução Portuguesa. Há que banir das nossas escolas estes elementos nocivos…”

Passados alguns anos, tudo é muito diferente, a exigência que recai sobre os profissionais da educação é muito maior e os alunos são pessoas que, por muito que errem, felizmente, nunca são parasitas.

Se procurarmos o significado da palavra disciplina vamos ver que, no seu sentido etimológico, se associa à ideia de educar, instruir, aplicar e alicerçar princípios morais, e que o seu antónimo – indisciplina – expressa desrespeito, confusão ou negação da ordem.

Hoje vemos a disciplina como uma relação de afeto e respeito, uma ação recíproca de cumprimento de normas. Por outro lado, a indisciplina, exaustiva e desafiadora, representa uma enorme dificuldade para o trabalho dos profissionais da educação.

Os motivos da indisciplina podem ser extrínsecos à aula, tais como problemas familiares, inserção social ou escolar, excessiva proteção dos pais, carências sociais, forte influência de ídolos violentos, etc, mas também podem resultar de disfunções entre os alunos e a escola, criando desmotivação.  

Alguns dos comportamentos de indisciplina resultam ou são potenciados pelos adultos. Para muitos alunos, estes comportamentos só acontecem porque os professores e os assistentes operacionais não gerem eficazmente os conflitos, ou seja, são ou muito permissivos ou muito autoritários, têm estratégias ineficazes e protagonizam situações de injustiça. Para Ana Rodrigues da Costa , (Doutorada em Desarrollo Psicológico, Familia, Educación e Intervención, pela Universidade de Santiago de Compostela ), “os assistentes operacionais poderão ter problemas devido a uma má gestão do poder (tolerância excessiva ou prepotência e autoritarismo) que pode promover a desobediência ou a agressividade”. Como adultos, os pais e encarregados de educação não podem deixar de ter, obviamente, um papel preponderante, pois são eles os primeiros e mais importantes modelos de comportamento para os seus filhos.

Para minimizar a indisciplina não existem fórmulas mágicas nem soluções fáceis. Cabe a todos – escola, professores, alunos, pais e encarregados de educação, funcionários – unir forças e criar estratégias para construir a escola que tanto ambicionamos. Segundo Vasconcellos, sem autoridade não se faz educação; o aluno precisa dela, seja para se orientar, seja para poder opor-se (o conflito com a autoridade é normal, especialmente no adolescente), no processo de constituição de sua personalidade. O que se critica é o autoritarismo, que é a negação da verdadeira autoridade, pois este baseia-se na coisificação, na domesticação do outro. Diante destas considerações, obedecer às regras não significa submissão ou servidão. O sentido da obediência para a criança ou adolescente terá valor quando aprenderem que viver em sociedade significa construir regras e que disciplina é sinónimo de autodomínio.

A indisciplina na escola só poderá ser evitada se toda a comunidade educativa se empenhar em fazê-lo, promovendo um ambiente de respeito, afeto, liberdade de expressão, ou seja, de cidadania positiva. É preciso que todos e que cada um dos professores e assistentes operacionais saibam lidar com a relação autoridade-liberdade

Ter autoridade não é ser autoritário, e a autoridade conquista-se!

Jorge Costa

Professor