Opinião Crónica: "A Educação na Liça Contra o Populismo" – por Jorge Costa
O Senhor Presidente da República Portuguesa tem vido a mostrar preocupação relativamente ao aparecimento de populismos ou de neopopulismos no mundo, na Europa e em instituições que podem contaminar a política portuguesa. No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa: Liberdade e Verdade, o Senhor Presidente da República lembra, tal como o Papa Francisco na sua mensagem para o Dia da Comunicação Social, que “a verdade liberta”. O Senhor Presidente referiu também que “neste contexto mundial em que vivemos e em que assistimos ao fenómeno das 'fake news' e em que, como referi na sessão solene do 25 de Abril, tantos populismos crescem à sombra de mediatismos fáceis, é necessária uma vigilância acrescida para que todos possam gozar de verdadeira Liberdade de Imprensa”.
Em sociedades livres e democráticas, como a portuguesa, é importante definir as fronteiras entre o popular e o populismo. Conseguimos diferenciar comportamentos moderados, defensores da justiça e da equidade, de discursos extremistas e paternalistas. O Populista tem a sua ascendência alicerçada em qualidades pessoais como faculdades mágicas, heroísmo, poder intelectual e oratória, no fundo podemos afirmar que o populista promove o culto da personalidade, apresentando um discurso claramente demagógico, atacando tudo o que se lhe opõe na busca de um culpado de qualquer coisa. Enquanto estilo discursivo, o populismo promove o antagonismo entre duas entidades inimigas, sendo que a frustração, a raiva, a desilusão, o medo e as emoções mais básicas fundamentam o voto nestas opções. As tendências para discursos populistas, por isso, antidemocráticos, aumentam quando alguém quer muito manter-se no poder.
Embora saibamos que os populismos possam uns estar à direita e outros à esquerda do espetro político, para mim, não me interessa discutir qual deles é o melhor ou o pior, se o populismo progressista ou o conservador. Ambos põem em causa a democracia e as liberdades.
As preocupações do Senhor Presidente da República Portuguesa são legítimas. Não é necessário pensarmos na Venezuela ou em alguns países do leste da Europa, basta olharmos para dentro do nosso país. A atualidade mostra-nos como o neopopulismo existe em Portugal, como é exemplo o que se passa no mundo do futebol. Não devemos olhar para o que está a acontecer como se de futebol apenas se tratasse, porque destas organizações à contaminação política vai apenas um pequeno passo.
Os perigos são grandes.
Cabe às escolas uma parte da responsabilidade na preparação dos jovens no conhecimento deste tipo de fenómenos. A disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, recentemente criada no Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular, pode ter uma importância determinante neste desígnio, nomeadamente na exploração dos temas Direitos Humanos, Interculturalidade, Media, Instituições e Participação Democrática, Segurança, Defesa e Paz, entre outras. Como se refere nas metas desta disciplina “a componente de Cidadania e Desenvolvimento visa contribuir para o desenvolvimento de atitudes e comportamentos, de diálogo e no respeito pelos outros, alicerçando modos de estar em sociedade que tenham como referência os direitos humanos, nomeadamente os valores da igualdade, da democracia e da justiça social”. Os professores desta disciplina têm de ter uma forte formação humanista para criarem nos alunos a vontade de assumir a sua cidadania, garantindo o respeito pelos valores democráticos e pelos direitos humanos. “Os professores têm como missão preparar os alunos para a vida, para serem cidadãos democráticos, participativos e humanistas, numa época de diversidade social e cultural crescente, no sentido de promover a tolerância e a não discriminação, bem como de suprimir os radicalismos violentos”.
A Educação e a Cultura podem ser armas contra o populismo.
Jorge Costa