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Portugal Lés a Lés

Portugal de Lés a Lés: "Descansar nas termas como reis"

4/06/2021 às 09:43
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Os tesouros mais ou menos escondidos de Portugal, ou, simplesmente, quase ignorados por muitos portugueses são, afinal, uma das receitas para ultrapassar a crise económica instalada por força da situação pandémica que ensombrou o Mundo no último ano e meio. À diversidade e beleza natural da maioria das regiões do País, juntam-se atrativos de peso para a promoção do turismo seja de origem nacional ou internacional.

Na sua 23.ª edição, o Portugal de Lés-a-Lés juntou ainda mais trunfos para contribuir na dinamização do interior, criando a primeira edição temática da grande maratona mototuristíca, a maior do género em toda a Europa.

Em conjunto com a Associação de Municípios da Rota da estrada Nacional 2 (AMREN2) e com autarquias atravessadas, renovou o desafio da travessia do mapa continental, de Chaves a Faro, utilizando exatamente essa via estruturante, a terceira maior do Mundo em termos de extensão. Mas juntou outros atributos a este passeio motociclístico, a começar pela divulgação das regiões termais. Na primeira etapa do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal, a ligação entre Chaves e S. Pedro do Sul tocou nada menos que cindo locais onde brotam essas nascentes de águas medicinais. Em dia de carvalhais e bosques seculares, das estradas mais recortadas em redor da N2, de aldeias graníticas e vales encantados, a longa e heterogénea caravana passou por Vidago e Pedras Salgadas, logo à saída de Chaves, passando ainda em Carvalhal, já no distrito de Viseu, ainda antes da chegada às milenares águas curativas que atrai cerca de 16 mil aquistas por ano.

 

As curas pelas águas e… pelas motos

 

A ‘jogar em casa’ esteve o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto que ao chegar a casa, ao seu distrito, «a um concelho vizinho de Viseu e que tão bem conheço», não deixou de manifestar grande satisfação por sentir o impacto imediato deste evento motociclístico em que, enquanto membro do executivo, participa desde 2017». João Paulo Rebelo confirmou junto do presidente da autarquia que «a capacidade hoteleira de S. Pedro do Sul – e que é bem significativa – estava completamente esgotada. Até porque», acrescentou, «é importante ir animando a economia, algo que é bem necessário para mais rapidamente conseguirmos ultrapassar estes momentos menos bons».

Um dia de termas e de serras antes da passagem para as planícies alentejanas que contou com 245 quilómetros repletos de motivos de interesse, que levaram os aventureiros a fazer-se à estrada bem cedo, com os primeiros participantes a arrancarem às 6 horas de Chaves. Partida madrugadora que conferiu outra mística aos primeiros bosques atravessados e sublinhou a imponência arquitetónica do Palace Hotel de Vidago, em tempos tido como o mais luxuoso de toda a Península Ibérica, ou do Hotel Avelames, em Pedras Salgadas, frequentado pelo Rei D. Carlos que se ali hospedava quando ia a banhos. Saída pela fresquinha que ajudou também a que as pequenas cinquentinhas do animado grupo de Santo Estevão que há muitos anos participam no Lés-a-Lés não aquecessem em demasia. E por lá foram, no seu inconfundível zumbido, galgando quilómetros rumo ao centro do País.

Com um pelotão cuja passagem leva cerca de seis horas, aqueles que partiram mais tarde escaparam à frescura matinal num dia marcado pelo verde de tom forte, pintalgado pelo amarelo-limão das flores das giestas (Cytisus striatus) mais conhecidas das maias, em contraste com a limpidez de um céu azul bem claro onde surgiam, aqui e ali, algumas nuvens que mais pareciam algodão bem fofo. Um dia fabuloso para andar de moto, com inúmeras saídas e regressos à N2, sempre por estradinhas não menos agradáveis e ainda mais surpreendentes.

Dia variado em termos de gastronomia, com destaque para o doce de castanha e a empada de cogumelos, em Vila Pouca de Aguiar, ou o famoso bolo podre de Castro Daire, onde todos os sentidos foram premiados. Além do paladar, oportunidade única para usufruir de um aroma único de primavera ou da visão prazenteira da descida rumo a Pontido, onde está sedeada a mais antiga banda de Música do País, criada em 1765. Vila Real foi a paragem seguinte, com um olhar sobre as emblemáticas bancadas do antigo circuito de velocidade, que tantas corridas de carros e motos acolheu, e as ruínas do castelo que serviu de berço à cidade, num promontório cujas escarpas deixam ver o encontro entre o rio Cabril e o Corgo. Por descobrir (ou revisitar) ficaram os não menos famosos covilhetes ou as cristas de galo… num dia de descobertas de verdadeiros oásis no meio das serranis como a praia fluvial de Fornelos, no rio Aguilhão. Onde o ex nadador olímpico Nuno Laurentino (1996, Atlanta0 e 2000, Sidney) só não parou para mergulhar porque estava demasiado entusiasmado que estava com o percurso. Encartado desde 2017 «propositadamente para fazer o Lés-a-Lés» volta a cada ano para «perfurar o País como não é possível fazer de outra forma». O nadador que chegou a ter em simultâneo, mais de metade dos recordes lusitanos e que conta com mais de uma centena de títulos nacionais, reconhece que «o maior prazer é encontrado nas estradinhas interiores, estreitas, mas muito recurvadas, praticamente sem trânsito». Como aquelas que levaram a passar pela Nossa Senhora do Viso ou por Fontes, terra do Xassos Urban Cup, essas alucinantes corridas de motorizadas onde só os mais intrépidos vencem.

Menos intimista, a descida para a Régua, com paisagens de deslumbramento absoluto a cada curva, seguindo-se a subida até à monumental cidade de Lamego, palco ideal para arredondar os pneus. Mais tranquila a passagem pela Senhora dos Remédios ou pelo Rio Balsemão, um dos 13 referenciados na edição especial do Passaporte que serve como comprovativo do cumprimento da totalidade do percurso, recolhendo carimbos em cada um dos 35 concelhos atravessados. Tempo ainda para uma agradável e muito interessante visita ao Centro de Interpretação da Máscara Ibérica, em Lazarim, onde estão expostos muitos exemplares de máscaras talhadas em madeira de amieiro, antes da passagem por Castro Daire rumo à Serra de Montemuro. Das aldeias mais altas de Portugal Continental, superando mesmo os 1120 metros do Sabugueiro (Gralheira está a 1130 metros de altitude) desceu a caravana, longa de 2250 motos e mais de 2500 motociclistas, até São Pedro do Sul, ainda a tempo de aproveitar a oferta de uma experiência em termas que contam mais de dois mil anos de existência e reconhecimento, e que, então apodadas de Caldas Lafonenses na Vila do Banho, recebiam amiúde D. Afonso Henriques para recuperar das mazelas de muitas batalhas. E onde os motociclistas repousaram no final da 1.ª etapa, plena de emoções, preparando-se para regressar à estrada em viagem longa de 299 quilómetros até Abrantes, ponto terminal da 2.ª jornada do 23.º Portugal de Lés-a-Lés.

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