O Tejo tem cinco novos vigilantes da natureza
O Ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, presidiu à cerimónia de apresentação da equipa de cinco novos vigilantes da natureza, no âmbito do Plano de Ação Tejo Limpo, que se realizou no dia 4 de setembro, no Parque Tejo, em Abrantes.
No discurso de boas-vindas, o presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, falou de “uma luta que nos diz muito”, em prol da melhoria da qualidade da água do Tejo. O autarca disse que “tem sido feito um trabalho fantástico” principalmente no último ano mas afirmou que “não está finalizado” pois “há, seguramente, muitas coisas para fazer”.
Manuel Jorge Valamatos lembrou que “houve um investimento muito grande nas margens do rio Tejo” em Abrantes e que a Autarquia encerrou um conjunto de atividades desportivas e abandonou a ideia de ter uma praia fluvial, pois “nunca tivemos análises da água que o permitissem. As análises eram desastrosas”.
“Precisamos do nosso rio limpo para continuar a ser uma estrada como sempre foi e que consigamos, com este rio, trazer mais coisas para Abrantes e para a região”, afirmou o presidente.
O presidente da Associação Portuguesa do Ambiente (APA), referiu-se a um “sentimento de quase sentido histórico” e não quis utilizar a expressão vigilantes da natureza, “embora esteja tecnicamente correta” para preferir a expressão guarda-rios. “Porque os guarda-rios voltaram a Portugal”, justificou.
Nuno Lacasta explicou que os guarda-rios “são vigilantes da natureza que se articulam com as forças policiais, com as autarquias e com outras forças de vigilância da natureza”. O presidente da APA confessou que “aprendemos com a crise de 2018” e que “intensificámos a vigilância, aumentámos os números de ações de fiscalização e aumentámos os meios, numa escala sem precedentes”. No entanto, reforçou que “isto não quer dizer que está tudo resolvido e que os nossos problemas estão acabados, pelo contrário. Temos é hoje uma capacidade para estar em cima, para acompanhar, para colaborar... que não tínhamos no passado”.
Nuno Lacasta disse que “a plataforma giratória” da atividade dos cinco guarda-rios vai ser em Abrantes “mas ocorrerá em todo o rio”. O Município de Abrantes está a providenciar novas instalações para transferir o atual polo da APA existente na cidade, de modo a poder constituir-se como sede operacional e alojar material de trabalho da nova equipa de vigilantes da natureza.
Nuno Lacasta acrescentou que estas contratações são um passo importante na implementação do Plano de Ação Tejo Limpo e referiu que estes cinco profissionais "vão percorrer constantemente a bacia hidrográfica do Tejo, exercer pedagogia junto das pessoas para limpeza das ribeiras, ter poderes de fiscalização e levantamento de autos, em estreita colaboração com a GNR, PSP e demais entidades envolvidas no processo".
A cerimónia prosseguiu com a assinatura dos contratos com os novos cinco vigilantes da natureza a quem o ministro do Ambiente deu as boas-vindas e a quem designou de "guarda-rios".
Os cinco profissionais, duas mulheres e três homens, com idades entre os 21 e os 29 anos, vão desempenhar funções de vigilância, fiscalização e monitorização relativas ao ambiente e aos recursos naturais, em especial no domínio hídrico, desenvolvendo ações de formação e de sensibilização dos utilizadores do rio Tejo.
Os novos vigilantes vão ter ao seu dispor um vasto número de equipamentos de monitorização e análise, uns instalados no meio hídrico e outros portáteis, que juntamente com os já existentes, permitirão abarcar territorialmente o curso principal do rio Tejo, bem como os seus afluentes.
Serão equipados igualmente de meios tecnológicos, para registo de ocorrências, comunicação e reporte (tablets, smartphones e hotspots), estando o seu trabalho diário ligado, em tempo real, à Plataforma Eletrónica Única de gestão do rio Tejo.
Foram ainda convidados a dar o seu testemunho, duas pessoas que têm no rio Tejo o seu modo de sustento. Fernanda Ribeiro, pescadora, disse vir de “famílias que toda a vida viveram da pesca” no rio, “onde vivi toda a vida” e confirmou que “as melhoras têm sido muitas porque há três, quatro anos, chegou ao caos total”. A pescadora recordou que “não havia como sobreviver do Tejo, tudo o que havia no rio, morreu”. Mas deixou o alerta: “atualmente está a melhorar mas vamos ver até quando conseguimos sobreviver com as águas assim”.
Já Vasco Fernandes, operador turístico em Vila Velha de Ródão, não quis falar “do que foi o rio há uns anos atrás mas sim constatar do que se passa agora”. Recebe “alguns milhares de turistas” durante o ano que já “não conseguem perceber o que se passou ali. O rio está bastante melhor e esperamos também que o futuro seja melhor, especialmente no turismo pois continuamos a investir”. “Agora já olhamos para o Tejo com um futuro muito mais promissor”, assegurou.
Antes de se dirigir aos presentes, João Pedro Matos Fernandes convidou Arlindo Consolado Marques “para fazer a 1ª parte do discurso”.
O ativista falou de “uma luta árdua”, de que continua a ir diariamente ao rio e afirmou que a qualidade da água no Tejo “melhorou 95%””. Disse-se “muito contente” e que a situação seja “para continuar”.
Para o ministro do Ambiente e da Transição Energética, a questão dos guarda-rios lembra-lhe um poema do Carlos Tê, interpretado por Rui Veloso na canção “Guardador de Margens” e que diz “vou guardando as margens, velando os lírios do jardim”. Um trabalho que considerou “da maior importância”. "Estamos a falar de cinco pessoas muito qualificadas, com um perfil profissional e académico muito diferente do que era comum nos guarda-rios, e que são garantia muito relevante de que vai haver mais olhos para o rio Tejo, a par de toda uma panóplia de ferramentas analíticas e de tratamento da informação que agora estão ao dispor destes vigilantes da natureza, aquilo a que continuarei a querer chamar de guarda-rios", fez notar João Pedro Matos Fernandes.
Na luta pela melhoria das águas do rio, o ministro falou de “um trabalho comprido (…) e onde não existe isenção de riscos. Mas o que fizemos no Tejo é mesmo coisa que muito me orgulha”.
Para o ministro do Ambiente, "mais importante, além de reduzir a impunidade, era reduzir o risco, isto é, melhorar a qualidade da água paulatinamente”, bem como assegurar que vão deixar de acontecer episódios como o do “fatídico dia 24 de janeiro” de 2018 quando o Tejo se transformou num manto de espuma em Abrantes.
Nesse sentido, João Matos Fernandes lembrou as “26 mil análises" efetuadas neste período temporal, a "remoção de 98% das lamas do Tejo", na zona de Vila Velha de Ródão, "os novos meios de fiscalização" e a contratação de cinco guarda-rios, contrações que "há décadas" não aconteciam em Portugal.
O ministro assegurou ainda que “a impunidade acabou" para aqueles que poluem o Tejo. "A impunidade acabou e não acabou hoje. Isso dissemos logo há dois anos, com tudo aquilo que foi a criação de um plano integrado de fiscalização ambiental para todo o país, que não existia, onde diversas entidades com diferentes competências exerciam funções sem que cada um conhecesse o trabalho umas das outras e, por isso, a impunidade está extraordinariamente reduzida desde essa altura".
Patrícia Seixas