Conferência É preciso repensar a mobilidade nos territórios de baixa densidade (c/áudio e vídeo)
Os presidentes de câmara de Abrantes e do Entroncamento defenderam esta terça-feira a conclusão do IC9, o transporte público a pedido, o hidrogénio e os transportes ligeiros ferroviários como fundamentais para a mobilidade e desenvolvimento da região do Médio Tejo.
Já o presidente da Câmara de Santarém considerou que o desvio da Linha do Norte na cidade pode melhorar a circulação ferroviária na região, enquanto que os presidentes de Vila Velha de Ródão e Castelo Branco defenderam que a requalificação e a conclusão do IC8, e a construção do IC31 em perfil de autoestrada são fundamentais para o desenvolvimento da região.
Todas as intervenções foram feitas a bordo de um comboio intercidades que ligou Lisboa à Covilhã e que serviu de base à primeira parte da conferência "Desafios da Mobilidade nos Territórios de Baixa Densidade" organizada pela Autoridade da Mobilidade e dos Transportes.
A mobilidade é, cada vez mais, fundamental nos dias correntes. A mobilidade física e a mobilidade digital são, aliás, uma preocupação da União Europeia e dos governos. E foi nesse sentido que o organismo liderado por Ana Paula Vitorino quis debater durante um dia, ouvindo os “atores” desses mesmos locais, uma vez que nas áreas metropolitanas há uma gestão, que já está a ser feita, mas muito diferente destes territórios do interior, cada vez mais chamados de baixa densidade. E o transporte público, sem gerar receitas por poucos utilizadores é cada vez menor.
Manuel Jorge Valamatos, começou a sua intervenção a referir a importância para a conclusão do IC9 [Ligação de Ponte de Sor à A23 e inscrita no Plano Rodoviário Nacional], via que prevê a construção de uma nova travessia sobre o Tejo na zona de Abrantes.
O autarca exemplificou a ligação forte da mobilidade à economia. “A conclusão do IC9 prevê passar junto à zona industrial do Tramagal, onde está sediada a Mitsubishi Fuso, e resolve em grande parte os problemas que esta empresa tem.”
O autarca reforçou a sua posição ao explica que a multinacional tem 600 trabalhadores, e desempenha “um papel importante para a economia da região”, revelando que o novo CEO da empresa, um alemão, assim que tomou posse olhou logo para as acessibilidades.
Por outro lado, o presidente da Câmara de Abrantes defendeu a importância da “eletrificação da Linha do Leste”, destacou a “importância” e o “sucesso” do projeto de ‘Transporte a Pedido’ implementado no Médio Tejo, direcionado para territórios de baixa densidade populacional.
Depois frisou o olhar atento às oportunidades que o encerramento da central a carvão no Pego, por poder trazer novos investimentos na área das energias renováveis e do hidrogénio verde.
E aproveitou a ocasião para anunciar a entrada em funcionamento, dia 13 de novembro, de um autocarro movido a hidrogénio, a título experimental. Será introduzido em Abrantes um autocarro público de passageiros, devidamente identificado como sendo um autocarro movido a hidrogénio verde, para assim tentarem perceber se esta é uma iniciativa “viável” do ponto de vista financeiro, económico e ambiental, para ser implementada em Abrantes e “eventualmente em toda a região do Médio Tejo”.
Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara de Abrantes explicou à Antena Livre que “isto acontece em vários países da Europa, isto é um sinal do futuro, um sinal de sustentabilidade quer ambiental, quer económico e é isso que estamos a fazer em Abrantes.” Este projeto-piloto ajudará, indicou, a ter a perceção estatística de dados específicos do concelho para poderem ser obtidos resultados sobre a sustentabilidade desta iniciativa.
Este é um projeto de parceria entre o Município de Abrantes e a Médio Tejo 21, a agência Regional de Energia e Ambiente do Médio Tejo e Pinhal Interior Sul
O presidente da Câmara do Entroncamento, Jorge Faria, destacou a contínua aposta na “melhoria das acessibilidades” ao nível de mobilidade na cidade, com passadeiras, rede de ciclovias, promoção da mobilidade pedonal, substituição gradual de veículos municipais por veículos elétricos, e um sistema, em fase de implementação, de 100 bicicletas partilhadas, elétricas e convencionais.
O "grande desafio" de futuro, poderá ser o envolvimento com um sistema de transportes ligeiros ferroviários, através de uma automotora. E explicou: “já não digo na Linha do Norte, que o canal ferroviário está muito esgotado, mas, por exemplo, na Linha da Beira Baixa podia fazer sentido a existência de um transporte ferroviário ligeiro, uma pequena automotora, à semelhança do que temos neste momento para Badajoz com dois horários, (…) e temos o ramal de Tomar que atravessa esta região e que poderia contribuir depois com uma complementaridade de transportes públicos em torno desta estrutura”.
Por outro lado, ao autarca do Entroncamento reforçou a importância para a região da ligação ferroviária entre a Linha do Norte e a Linha do Oeste, servindo Fátima, para completar esta malha ferroviária e que permitiria um serviço ligeiro ferroviário com bastante interesse. E concluiu a dizer que esta é uma ideia já defendida noutros fóruns.
Antes, o presidente da Câmara de Santarém tinha considerado que o desvio da Linha do Norte na cidade pode melhorar a circulação ferroviária na região. “Ao nível da ferrovia há um projeto que podia melhorar tudo isso [da mobilidade], ou seja, é o desvio da Linha do Norte, em Santarém, que nos traria um ganho de alguns minutos nas deslocações entre Lisboa e todo este território”, afirmou Ricardo Gonçalves (PSD).
Esta alteração iria permitir, de acordo com o autarca, que a linha “saia de dentro das povoações e, do ponto de vista do tempo, se ganhe quatro, cinco, seis minutos, um tempo que hoje é importante ao nível da ferrovia.”
Já ao nível do transporte público rodoviário o presidente da Câmara de Santarém referiu que Santarém não conseguiu que o concurso para a prestação do serviço de transporte público “chegasse até ao fim”, com a escolha de um prestador por isso, está “a trabalhar para que exista uma empresa intermunicipal de transportes na Lezíria do Tejo”, ao nível da Comunidade Intermunicipal (CIM), adiantou Ricardo Gonçalves.
O autarca disse ainda esperar que, dentro de algumas semanas, sejam anunciadas pela comissão técnica independente as melhores opções para a localização do novo aeroporto de Lisboa, sendo que Santarém é uma das nove em estudo.
Vítor Pereira, o anfitrião, começou a sua intervenção a caracterizar o território, ao dizer que mais de 60% do país não tem uma rede pública de transportes públicos. Se de for em território é uma área de 80%.
O presidente da Câmara da Covilhã deixou uma outra mensagem: “podemos deixar estas populações mais isoladas, em terras onde já não há escola, médico, CTT?” E acabou por dar uma resposta: “pagamos uma fatura elevada para termos transportes nos nossos concelhos.”
Atualmente o custo real com transportes na Covilhã é de 1,8 milhões por ano, quase o dobro da pré-pandemia. “Não podemos ser só nós. Precisamos de apoio financeiro específico e precisamos de uma nova política de transportes”, sublinhou o autarca.
E de seguida explicou que o passe social da freguesia mais a sul da Covilhã para a cidade custa 120 euros. E se forem duas pessoas são 240 euros. E só não aumenta com filhos porque a Câmara paga os transportes escolares. E depois a comparação. A ligação Sesimbra / Mafra custa 40 euros e o passe familiar 80.
Vítor Pereira voltou a questionar: “será justo uma pessoa que percorre 80 km com várias ofertas e uma pessoa na Covilhã pague 120 euros por 48 km com apenas 2 autocarros por dia.”
Ana Paula Vitorino, a presidente da Autoridade de Mobilidade e Transportes (AMT), já no auditório da Universidade da Beira Interior lançou o desafio: “Como é que podemos fazer melhor. Ou como é que podemos fazer ainda mais”.
Depois vincou a necessidade de termos de avançar para outro caminho de mobilidade. “Temos de considerar o transporte a pedido ou o transporte flexível. E depois como é que se consegue ir mais além. E para os autarcas, como é que se financia?”
Muitas perguntas do regulador, mas sempre a lembrar dois desafios em todo este processo: o económico e o ambiental. “Temos de ir mais à frente. Políticos. Técnicos. Reguladores.”
São desafios muito importantes, explicou Ana Paula Vitorino, e lançou isto como uma questão de ADN. “Temos de encarar isto para estar no nosso ADN, como já aconteceu com o lixo.”
Ana Paula Vitorino aproveitou a ocasião para apresentar o novo desafio de uma geração, num projeto-piloto que está a começar na Covilhã.
Há um projeto que ainda não tem nome, mas que pode ser “mobility hub” e está a fazer nascer na Covilhã uma “escola hub de mobilidade sustentável.”
O secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, começou por dizer que a mobilidade ganhou contornos que não tinha há duas décadas.
A mobilidade, acrescentou, é um problema que existe em todo o lado, mas as soluções das áreas urbanas e dos territórios de baixa densidade não são os mesmos.
É preciso pensar na organização, numa nova forma de organização dos transportes que passa ou pode passar pelas autarquias, ou pelas comunidades intermunicipais.
Depois há o financiamento. E o governante disse que o governo tem tentado financiar estes sistemas com a aquisição de novos autocarros.
Há uma verba de 360 milhões de euros para os transportes públicos. Para as Comunidades Intermunicipais e para as Áreas Metropolitanas, para aplicar nas áreas onde a utilização de transporte público está abaixo da média nacional. Aí tem de haver mais apoio.
E o eixo 3 deste plano tem a ver com as pessoas. Os transportes públicos requerem uma maior disciplina na vida. “Venho de Viana do Castelo para Lisboa de comboio. Não é como Porto Lisboa, dá mais trabalho, mas é possível.”
“Desafios da Mobilidade nos Territórios de Baixa Densidade" foi uma conferência organizada pela Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, na Covilhã, mas que começou em Lisboa. Começou com uma viagem/conferência, num comboio intercidades, da parte da manhã, e na Covilhã, da parte da tarde.
Veja AQUI a conferência na UBI: