Investigação Como processamos as mudanças de estado dos objetos durante a compreensão da linguagem?
Um estudo realizado no Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) explorou como as pessoas processam as mudanças de estado de um objeto durante a compreensão da linguagem. Os resultados podem melhorar a nossa compreensão da linguagem e informar modelos teóricos de cognição de eventos.
Segundo os autores Oleksandr Horchak e Margarida Garrido, investigadores do CIS-Iscte, estudos no campo da psicolinguística (área da psicologia que investiga os processos linguísticos) têm explorado como as pessoas processam mudanças nos estados dos objetos durante a compreensão da linguagem. Por exemplo, o que acontece quando lemos uma frase sobre alguém escolher uma banana vs. pisar uma banana?
“Os nossos cérebros são sensíveis às mudanças de estado dos objetos, e as dificuldades associadas a manter o controlo desses múltiplos estados podem ser significativas”, explica Oleksandr Horchak. “Por exemplo, estudos anteriores mostraram que as pessoas levavam mais tempo para verificar uma imagem de uma banana no seu estado original depois de ler uma frase como ‘O João pisou uma banana’ do que depois de ler uma frase como ‘O João escolheu uma banana’. O inverso foi observado para a imagem de uma banana num estado modificado (esmagada), para a qual as pessoas eram mais rápidas após a primeira frase (pisou) do que a segunda (escolheu).” Mas existirão outras consequências de ter de acompanhar estes diferentes estados do mesmo objeto?
“O objetivo do nosso estudo foi determinar se as pessoas são sensíveis aos estados de objetos semanticamente relacionados, como uma manga e uma banana, durante a compreensão de eventos”, afirma Margarida Garrido. A investigadora acrescenta que “há evidências substanciais que indicam que, quando as pessoas fornecem uma resposta ‘não’ neste tipo de tarefas, os seus tempos de resposta são reduzidos para objetos altamente relacionados. Por exemplo, é difícil dizer que “banana” não foi mencionada numa frase que faz referência a uma fruta relacionada, como “manga”. No entanto, o que permanece por esclarecer é até que ponto as respostas serão mais lentas dependendo do estado assumido do objeto relacionado (estado original da manga vs. estado modificado da manga)”. Por outras palavras, a equipa de investigação quis desvendar se o tempo necessário para decidir que uma banana não foi mencionada na frase (resposta ‘não’) aumenta quando os eventos descrevem uma mudança substancial, como em ‘O João pisou uma manga’.
Nas experiências deste estudo, participantes leram frases sobre mudanças no estado dos objetos (“O João escolheu/pisou uma manga” ou “A Joana escolheu/pisou uma lâmpada”) e, em seguida, viram uma imagem de um objeto (“banana”). Tinham de decidir se esse objeto tinha sido mencionado na frase anterior. De acordo com a previsão, os resultados mostraram que os tempos de verificação para uma banana foram mais longos após a leitura de uma frase descrevendo uma mudança substancial de um objeto relacionado (‘O João pisou uma manga’) em comparação com uma frase que descrevia uma mudança mínima (‘O João escolheu uma manga’). É importante salientar que os tempos de verificação para uma banana não foram afetados após a leitura de uma frase que fazia referência a uma mudança substancial de um objeto completamente não relacionado (“O João pisou uma lâmpada”). Isto exclui a possibilidade de que o tipo de verbo por si só (por exemplo, verbos de ação, verbos estáticos) possa lentificar as respostas das pessoas independentemente do objeto mencionado na frase.
Para a equipa de investigação do CIS-Iscte, o estudo fornece evidências de que as pessoas são sensíveis aos múltiplos estados de objetos semanticamente semelhantes, sugerindo que compreender eventos envolve a construção de representações dinâmicas de histórias de objetos que se cruzam. “Estes dados são importantes para um melhor entendimento dos processos cognitivos envolvidos na compreensão da linguagem e na representação mental de eventos através da integração de informação visual e linguística”, concluem Oleksandr Horchak e Margarida Garrido.
Comunicação de Ciência (CIS-Iscte)