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Sociedade A violência no namoro é uma realidade que tem de ser sinalizada (C/ÁUDIO)

14/02/2022 às 19:24
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Mais de metade dos participantes num estudo divulgado esta segunda-feira, dia 14 de fevereiro, sobre violência no namoro em contexto universitário disse já ter sido sujeito a pelo menos um ato violento, quase em igual proporção de homens e mulheres.

O Estudo Nacional da Violência no Namoro em Contexto Universitário (2020/2021) é apresentado pelo UNI+, um programa promovido pela Associação Plano i, com financiamento comunitário e destinado a prevenir a violência no namoro no contexto universitário.

A Antena Livre foi tentar perceber se no concelho de Abrantes existem casos de violência no namoro. No caso dos serviços do Município, onde funcionam o Gabinete de Apoio à Vítima e a Rede Especializada de Intervenção na Violência de Abrantes (REIVA), há casos de violência no namoro. De acordo com os gabinetes há casos reportados e em menores de idade que são acompanhados pelos pais.

Marisa Espadinha é Assistente Social e Técnica Especializada em Apoio à Vítima e revelou que não havendo números que sejam alarmantes, a existência de um simples caso de violência no namoro é, só por si, preocupante. Tanto mais que numa sociedade cada vez mais digital é preciso estar alerta para os “novos” tipos de violência, que ultrapassam, em muitos pontos, a violência física.

De acordo com um estudo realizado pela UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) e que incide sobre o ano 2020 a violência física representa apenas 5% de outros tipos de violência. No documento a que a Antena Livre teve acesso pode perceber-se que o controlo representa 26% dos casos documentados. E quando se fala em controlo, nas camadas mais jovens, fala-se, segundo Marisa Espadinha da “obrigação da vítima dar ao companheiro, ou à companheira, acesso a todas as palavra-passe de redes sociais ou telemóveis”. Há depois, ainda de acordo com a técnica a imposição de vestuário, mais propriamente “uma tentativa de proibição que a namorada, ou namorado, vista esta ou aquela peça de roupa”.

No mesmo estudo a perseguição aponta a 23% dos casos reportados, enquanto que a violência sexual está na terceira posição com 19%. Com 15% surge a violência psicológica e com 14% a violência através das redes sociais.
Nestes casos, da violência no namoro pode ser detetada, muitas vezes nas escolas, onde os parceiros da Rede Social de Abrantes, Gabinete de Apoio à Vítima, forças policiais, entre outras entidades, realizam sessões de esclarecimento. E há casos em que no final dessas mesmas sessões são conhecidos casos muito concretos nesses estabelecimentos que depois passam para a esfera das entidades que os acompanham.

Marisa Espadinha explicou que todos os casos são tratados com o anonimato e com toda a reserva das identidades das vítimas. A técnica do Município de Abrantes, reforçou que este é um fator muito importante. “Sempre que alguém aciona o “Botão de Pânico” da plataforma “Abrantes 360” ou que ligam para o telefone do Apoio à Vítima (965 137 000) que está 24 horas disponível para quem tenha necessidade de denunciar casos de violência no namoro ou violência doméstica”.

Preocupante, segundo os dados do estudo da UMAR, são os atos de violência aceites pelos jovens, como insultar durante uma discussão (25%), incomodar ou procurar insistentemente (23%) ou entrar nas redes sociais sem autorização (35%). Há ainda outros casos identificados como sendo “normais” para os jovens, como insultar através das redes sociais (17%), pressionar ou agarrar para beijar (29%) ou ainda empurrar, ou esbofetear sem deixar marcas (6%). Os valores apresentados pelo estudo da UMAR são valores em média e é o sexo masculino. O estudo aponta, em conclusão, a uma prevenção primária da violência de género em contexto escolar, de forma continuada por forma a poder consciencializar os jovens a desenvolver as suas relações de intimidade saudáveis e desconstruir a legitimação de comportamentos abusivos.

Marisa Espadinha, Assistente Social e Técnica de Apoio à Vítima

Já a violência doméstica, de forma geral, teve um aumento em tempos de pandemia. Estes números cresceram no país e também em Abrantes. Houve mais casos reportados e “não deixámos de responder” só porque estávamos em pandemia e confinamento. Há mais vítimas mulheres. Mas também há homens que procuram os serviços”.

Marisa Espadinha explicou ainda que algumas vezes os casos são sinalizados por vizinhos ou por outras pessoas que têm proximidade às vítimas e admite que “haverá ainda muitos casos de violência que continuam escondidos.” E os casos podem resultar de medo dos comportamentos posteriores às denúncias ou falta de autonomia financeira para prosseguirem com a sua vida. Há, suspeita-se, de casos de acomodamento a uma ideia de um sexo masculino é o dominador do sexo feminino.

De realçar que os casos reportados dizem respeito tanto a áreas mais urbanas como as áreas mais rurais. E muitos casos estão também relacionados com o alcoolismo.

Seja como for, Marisa Espadinha, disse que Abrantes tem vários serviços que estão disponíveis para receber a sinalização ou os apelos das próprias vítimas. E adiantou que dentro da Rede Social do Concelho de Abrantes há, a par das autoridades policiais, outras entidades que também podem prestar ajuda ou apoio a quem sofra de atos de violência doméstica, seja física, psicológica ou, nos dias de hoje, relacionada com as redes sociais.

O primeiro passo é sempre sinalizar uma situação e deixar os especialistas fazer o seu trabalho, sempre de forma confidencial. Afinal o objetivo é proteger as vítimas de violência.

De destacar que a plataforma digital do Município “Abrantes 360” tem um “Botão de Pânico” para situações extremas em que a vítima precise de apoio e tenha receio ou mesmo medo de contactar diretamente os vários locais onde pode fazer as denúncias.