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Astronomia

A deteção mais distante do campo magnético de uma galáxia

10/09/2023 às 10:25
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Com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), os astrónomos detectaram o campo magnético de uma galáxia tão distante que a sua luz demorou mais de 11 mil milhões de anos a chegar até nós: estamos a observá-la quando o Universo tinha apenas 2,5 mil milhões de anos de idade. Este resultado forneceu aos astrónomos pistas cruciais sobre como é que se formaram os campos magnéticos de galáxias tais como a nossa Via Láctea.

Há imensos objetos no Universo que apresentam campos magnéticos, sejam eles planetas, estrelas ou galáxias. “As pessoas podem não se aperceber, mas na nossa Galáxia e noutras galáxias entrelaçam-se campos magnéticos com dimensões da ordem das dezenas de milhares de anos-luz,” diz James Geach, professor de astrofísica na Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, e autor principal deste estudo publicado hoje na revista Nature.

Na realidade, sabemos muito pouco relativamente à formação destes campos magnéticos, apesar de serem fundamentais para compreendermos a evolução galáctica,” acrescenta Enrique Lopez Rodriguez, investigador na Universidade de Stanford, EUA, que também participou no estudo. Não é claro quão cedo na vida do Universo, e quão rápido, é que os campos magnéticos se formaram nas galáxias, isto porque, até agora, os astrónomos apenas mapearam campos magnéticos em galáxias próximas de nós.

Agora, e com o auxílio do ALMA, do qual o Observatório Europeu do Sul (ESO) é um parceiro, Geach e a sua equipa descobriram um campo magnético completamente formado numa galáxia distante, semelhante em estrutura àqueles observados em galáxias próximas. O campo é cerca de mil vezes mais fraco do que o campo magnético da Terra, mas estende-se ao longo de mais de 16 000 anos-luz.

Esta descoberta dá-nos novas pistas sobre como é que os campos magnéticos se formam à escala galáctica,” explica Geach. A observação de um campo magnético completamente desenvolvido tão cedo na história do Universo indica que os campos magnéticos que englobam galáxias inteiras podem formar-se rapidamente na altura em as galáxias jovens ainda se estão a desenvolver.

A equipa acredita que a formação estelar intensa no Universo primordial poderá acelerar o desenvolvimento de campos magnéticos. Adicionalmente, estes campos podem, por sua vez, influenciar o modo como se formam as gerações seguintes de estrelas. Rob Ivison, co-autor do trabalho e astrónomo do ESO, afirma que esta descoberta abre “uma nova janela para o funcionamento interno das galáxias, uma vez que os campos magnéticos estão ligados ao material que está a formar novas estrelas.

Para fazer esta deteção, a equipa observou a radiação emitida por grãos de poeira de uma galáxia distante, 9io9. As galáxias estão repletas de grãos de poeira e quando um campo magnético se encontra presente, estes grãos tendem a alinhar-se, fazendo com que a radiação que emitem seja polarizada. Isto significa que as ondas de luz oscilam segundo uma direção privilegiada, em vez de aleatória. Quando o ALMA detectou e mapeou um sinal polarizado emitido pela 9io9, confirmou-se pela primeira vez a presença de um campo magnético numa galáxia muito distante.

Nenhum outro telescópio teria conseguido fazer esta observação,” diz Geach. A esperança é que com esta e outras observações futuras de campos magnéticos distantes, começaremos a desvendar o mistério da formação destas estruturas galácticas fundamentais.

Observatório Europeu do Sul