Médicos de família “Não podemos aceitar isto como o novo normal” - CUSMT (C/ ÁUDIO)
Ocorreu no dia 1 de julho uma contestação que teve lugar na frente do Centro de Saúde de Abrantes. Contou com a presença de Manuel José Soares, que deu início à temática e que se seguiu de diferentes contestantes que deram voz a estes problemas.
A contestação teve início pelas 18 horas e juntou vários contestantes que apresentaram os diversos problemas que encontram no Centro de Saúde de Abrantes e até mesmo em Constância, como exemplifica Júlia Amorim, “eu sei que a minha médica de família daqui a dois anos se reforma”, o centro de saúde de Constância ficará assim com apenas uma médica de família. Júlia Amorim diz que “é um sentimento de nos sentirmos órfãos”.
A problemática aqui apresentada por Manuel José Soares, e por outros contestantes que usaram da palavra, assim como Júlia Amorim, é sempre o da falta de médicos de família. Para ser mais exato, Manuel José Soares, conta que são “quase 60 mil utentes” que não possuem médico de família.
Continua por dizer que “o nosso problema é que em matéria de saúde, não deveria haver um caso que funcionasse mal”, estas devem ser questões vistas, não só como questões isoladas, mas também “no conjunto daquilo que é a prestação de cuidados de saúde”.
“Não percebemos o que é que se passa.” Manuel José Soares afirma que existem problemas no que toca à organização dentro destes locais, como “as pessoas telefonarem para as unidades de saúde e ninguém atender”. Aponta ainda que é um problema as pessoas com pulseira verde e azul nas urgências, “passam a ir para os cuidados primários”, ou seja, para os centros de saúde, o problema é “que nem lá médico há”.
Paulo Jacinto, alerta “para as populações do sul do concelho” que são compostas por pessoas mais envelhecidas, “com parcos recursos económicos, pessoas com imensas dificuldades de deslocação” e que acabam por não se sentir acompanhadas “pelo médico de família, tal como deviam”.
“Não é justo que nós, população, passemos por isto”, Júlia Amorim identifica a situação de um “médico prestador de serviços para uma extensão de saúde”, em Torres Novas, que nunca chegou a entrar ao serviço, “era para começar a uma segunda-feira, teve uma proposta melhor” perto da zona de residência no dia antes de entrar ao serviço “foi-se embora”.
Júlia Amorim acredita que o “Serviço Nacional de Saúde tem de ser defendido”, assim como os profissionais de saúde devem ser “valorizados a nível salarial”, assim como na “progressão das suas carreiras e valorizados diariamente naquilo que fazem”.
Júlia Amorim e Manuel Soares acreditam que os salários dos médicos não são bem distribuídos. Pelas palavras de Júlia Amorim, “não é possível um médico que vai de vez em quando ao hospital, fazer umas consultas, ganhar mais à hora do que aquele médico que lá está em permanência”. Para ser mais exato, Manuel Soares fala em números, “um médico que vá prestar serviço para o centro de saúde ganha 20 euros hora”, se este médico for para o hospital, acaba por receber “30, 50% mais”. Isto torna “evidente que o médico” prefira prestar serviço no “hospital do que estar num centro de saúde”.
“O Serviço Nacional de Saúde nasceu com o 25 de abril” e ao longo dos tempos já temos algumas alterações, mas Júlia Amorim acredita que “nós temos de reverter esta situação”.
Diz que “é no público que nós temos as respostas”, e que por isso não se pode dizer que o “privado é melhor e que se diga mal do público”.
Júlia Amorim conta que “vários familiares”, com os seus problemas de saúde, o local onde encontram as respostas “não é no privado, é no público”.
As consultas de recursos não são a solução para quem não tem um médico de família. Ana Paula Cruz, conta um dia em que se dirigiu ao Centro de Saúde para marcar uma consulta de recurso. “Às 7h da manhã”, quando Ana chegou ao centro de saúde, “já tinha três pessoas à minha frente, a primeira pessoa da fila tinha mais de 80 anos” e que devido às condições climáticas “estava enrolada em mantas”. “Não podemos aceitar isto, não podemos ter isto como o novo normal”, conclui.
Outro problema recorrente é a falta de transportes para a população se conseguir deslocar até ao centro de saúde. Ana Paula Cruz explica que as consultas são marcadas da parte da manhã e a “consulta fica marcada, por exemplo para as duas da tarde”, o que faz com que os utentes se tenham de deslocar, muitas vezes de longe. O problema é que isto só é possível se “tiver transporte pessoal, porque transportes coletivos também não os há”.
Maria Francisca Carvalho