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Saúde

Mouriscas volta a ter médico de família 9 horas por semana (c/áudio)

1/09/2023 às 16:32
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11 meses depois o médico voltou a sentar-se no consultório do Posto de Saúde de Mouriscas. E sentou-se o mesmo médico que durante 40 anos serviu aquela comunidade. O regresso anunciado aconteceu na manhã desta sexta-feira, 1 de setembro, e logo com casa cheia. Já estava anunciado o regresso por isso muitos mourisquenses, na maioria idosos, marcaram presença para marcar consulta ou para pedir medicamentos.

António Proa aposentou-se no ano passado e deixou um vazio na extensão de saúde. Ainda por lá passaram, de forma fugaz, duas médicas, mas durante mais de dez meses os utentes tiveram de recorrer às consultas de recurso na Unidade Cuidados Primários de Saúde (UCPS) de Abrantes.

Eram 09h30 da manhã quando o médico entrou na extensão de saúde. Surpresa para uns, por ser o Dr. Proa, para outros não tanto, que já sabiam ser ele que voltaria ao espaço que tão bem conhece.
António Proa vai estar, para já e de acordo com o primeiro protocolo celebrado entre Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), Município de Abrantes e Associação Comunitária de Apoio à Terceira Idade de Mouriscas (ACATIM), 9 horas por semana em Mouriscas. Terças, quintas e sextas-feiras entre as 09h30 e as 12h30, mas pode haver uma extensão nestas horas.

O médico explicou que, quando se aposentou em 2022, foi-lhe apresentada uma proposta de continuidade, mas a valores que considerou muito, mas mesmo muito baixos. “Se trabalhamos temos de receber, não é assim?” A questão foi feita e respondida logo a seguir, já que este programa Bata Branca pode vir a ser uma solução, de recurso, para colmatar uma falta de médicos que atinge o país e praticamente todo o Médio Tejo.

 

António Proa, médico

Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara de Abrantes, e Diana Leira, diretora do ACES Médio Tejo, estiveram em Mouriscas. Entraram para uma conversa com o médico que estava ainda a “instalar-se” num local que conhece. E isso pode ser facilitador, porque tem conhecimento dos utentes que acompanhou ao longo de 40 décadas.

O presidente da Câmara de Abrantes, no exterior, destacou que o dia, não sendo feliz, era simpático por ser dado um passo num problema que aflige muitos territórios. O autarca repetiu o que tem dito que a colocação dos médicos é da responsabilidade do Ministério da Saúde, neste caso através da Administração Regional de Saúde. “À Câmara de Abrantes compete-nos ajudar, ser parte integrante da solução”, disse Manuel Jorge Valamatos acrescentando que vão continuar neste caminho ao lado do ACES do Médio Tejo.

Em Mouriscas “é uma dupla satisfação porque recuperamos um médico que aqui fez a sua vida profissional (...) e aqui temos o problema mitigado, minimizado”, destacou o autarca que reforçou “o Dr. Proa vai fazer aqui três manhãs e vamos ver a capacidade de resposta e acompanhar este trabalho.”

O presidente da Câmara aponta este exemplo como uma boa solução que é preciso replicar noutros pontos do concelho. E indicou ainda que, ou através do Bata Branca, ou de outros projetos, estamos em condições de poder ir à procura de mais médicos aposentados para fazer serviço em Abrantes.

Mas não deixa de lado um outro processo que já começou e que é a criação de uma nova Unidade de Saúde Familiar (USF) para o norte do concelho. Trata-se de uma USF que vai ficar sediada na Escola das Hortas [antiga escola primária localizada em frente ao McDonalds] que vai ter polos em Mouriscas, Carvalhal e Rio de Moinhos.

“Queremos atrair médicos para um novo modelo de saúde familiar como acontece já com as USF de Abrantes”, garantiu Manuel Jorge Valamatos.

Neste momento “estamos a trabalhar na parte do projeto e na constituição técnica da USF para todo o norte do concelho de Abrantes.”

 

Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes

Diana Leiria, diretora do ACES Médio Tejo, questionada sobre a importância do projeto Bata Branca para um território com falta de médicos começou por referir que “é uma situação de último recurso.” Há uma dificuldade em atrair novos médicos de família para a região para colmatar a saída de médicos naquilo que chamou de “drama”. Diana Leiria reforçou que não há capacidade de atrair novos médicos para colmatar as saídas do que se vão aposentando. E se aqui até poderia haver alguma previsibilidade para a sua substituição há um outro fator que não é previsto nem quantificável. Diana Leiria frisou que há médicos jovens que pedem exoneração de contratos de trabalho. E a responsável explicou que muitos são do norte do país e sempre que abrem concursos para o norte estes médicos “exoneram-se” para poderem concorrer para mais perto de casa.

De acordo com Diana Leiria “não há aqui uma questão financeira” e aponta a esta solução do projeto Bata Branca que tem uma parte dos valores, a maior parte, suportada pelo Ministério da Saúde. Não há é entrada de novos médicos.

Este ano o ACES Médio Tejo abriu concurso com 37 vagas para serem preenchidas nos 11 concelhos e teve apenas 3 médicos a concorrer, sendo dois para Torres Novas e um para Fátima.

Já sobre as Unidades Locais de Saúde (ULS) que vão ser criadas a 1 de janeiro de 2024 ainda não há novidades. “Entregámos o plano de negócios e aguarmos a publicação do regulamento funcional da ULS (que engloba os 11 concelhos do ACES Médio Tejo e o Centro de Saúde de Vila de Rei).”

Diana Leiria, diretora ACES Médio Tejo

O médico regressou a Mouriscas ao abrigo do projeto bata branca. Ou seja, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo paga 27 euros por hora. O Município de Abrantes acrescenta mais 15 euros à hora e o médico é contratado através da Associação Comunitária de Apoio à Terceira Idade de Mouriscas.

É a primeira vez que o programa Bata Branca está a ser implementado em Abrantes. Na forja estão outros acordos com médicos já aposentados. O próximo pode ser para o Centro de Saúde de Alferrarede.

Médio Tejo tem 70 mil utentes sem médico de família

Mais de 70 mil utentes dos 11 municípios do Médio Tejo estão sem médico de família, uma realidade que “assume maior dimensão” em Ourém, Abrantes, Alcanena, Mação e Sardoal.

“O Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Médio Tejo regista um total de 225.522 utentes frequentadores e 33% destes utentes não têm médico de família atribuído”, referiu a entidade de saúde numa resposta a um pedido de esclarecimento da Lusa, dando conta de que, para dar resposta a estes utentes, o ACES Médio Tejo e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo “têm recorrido a todas as alternativas possíveis”.

No entanto, admitiu, “apesar de todos os esforços, e face à dimensão do problema, estas horas médicas disponibilizadas aos utentes que estão sem médico atribuído não são suficientes”.

Esta realidade, indicou ainda, “assume maior dimensão nos concelhos de Ourém (exceto Centro de Saúde de Fátima), Abrantes, Alcanena, Mação e Sardoal, onde a percentagem de utentes sem médico atribuído é superior aos 33% da média”.

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