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Mouriscas perde médico de família e concelho passa a 10 mil utentes dependentes de contratados (C/ÁUDIO)

22/11/2022 às 17:29
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Posto Médico Mouriscas

A população foi apanhada de surpresa e rapidamente esse efeito passou a revolta divulgada nas redes sociais. Mouriscas ficou sem médica de família que fi transferida para uma outra localidade.

Mouriscas perdeu o seu médico de família no final do ano passado. António Proa aposentou-se e o melhor que o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo conseguiu foi deslocar uma médica uma vez por semana para garantir consultas à população. Esta garantia foi dada a 4 de março pelo presidente da Câmara de Abrantes, depois de reuniões com ACES do Médio Tejo.

E ao longo de um ano, as consultas, foram sendo realizadas às terças-feiras, sendo que a outra solução passou sempre pelo recurso à Unidade de Cuidados da Comunidade.

Na manhã desta terça-feira, dia 22, seria um dia normal no posto médico de Mouriscas, só que, logo pela manhã os utentes que iam para consulta ou para pedir medicamentos, foram surpreendidos pela ausência da médica de família.

Rapidamente começou a circular a informação que a médica que ali ia todas as terças-feiras deixaria de o fazer para, alegadamente, passar para o Centro de Saúde de Sardoal.

A Antena Livre tentou contactar a coordenadora do Centro de Saúde de Abrantes, Rita Soares, que está ausente do serviço esta terça-feira.

No entanto, de acordo com uma fonte esta situação poderá ter a ver com a saída de dois médicos do concelho de Sardoal, no início de dezembro. Com esta saída dos profissionais o concelho ficaria sem qualquer médico de família e pode ter havido aqui uma alteração de planos.

A médica que estava a fazer as terças-feiras em Mouriscas e que fazia o resto dos dias da semana no Entroncamento poderia passar a estar em permanência em Sardoal. Mas, ao que conseguimos saber, de acordo com esse plano inicial, as terças-feiras continuariam da mesma forma, ou seja, com o serviço em Mouriscas.

O facto, é que nesta terça-feira, a médica já não foi fazer o serviço a Mouriscas, sem qualquer aviso prévio, por parte do ACES Médio Tejo. E o outro facto é que a situação causou revolta aos utentes que estavam à espera de consulta no posto médico.

A Antena Livre contactou a direção do ACES Médio Tejo, no sentido de falar com a diretora Diana Leiria, mas a informação transmitida foi a “a diretora está em reuniões, em Lisboa.”

Pedro Matos, presidente da Junta de Freguesia de Mouriscas, disse ter sido surpreendido com a informação que lhe chegou na manhã desta terça-feira, e sobre a qual não tinha nenhuma informação. Acrescentou que telefonou de imediato para a vereadora com responsabilidade pelo pelouro da Saúde, no Município de Abrantes, para a informar do que se estava a passar.

Neste momento e de acordo com a informação disponível é que até existir uma solução da Junta de Freguesia e Câmara vão avaliar as necessidades da população, principalmente a mais idosa, no sentido de poderem usar a consulta de recurso em na UCSP de Abrantes.

A Antena Livre contactou também a vereadora com o pelouro da Saúde na Câmara de Abrantes, Raquel Olhicas, para obter uma reação a mais este problema.

No período da manhã a autarca não tinha informação sobre qualquer tipo de gestão ou alteração de recursos humanos na saúde e já após almoço confirmou que tinha falado, ao telefone, com a diretora do ACES Médio Tejo que lhe confirmou que a médica Galina Ceapa vai ser transferida para o Sardoal que em dezembro vai perder os dois médicos que tinha. Estes profissionais pediram a exoneração com efeitos neste mês de dezembro.

Raquel Olhicas confirmou à Antena Livre que o plano inicial tinha a previsão que esta médica pudesse continuar a fazer o serviço em Mouriscas, tal como estava contratado, mas que houve uma alteração e acrescentou que o ACES Médio Tejo tem de gerir todo o território e não apenas o concelho de Abrantes.

No imediato a população de Mouriscas vai ficar sem médico de família e terá de recorrer à consulta de recurso da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Abrantes. Raquel Olhicas não teve informação sobre os motivos desta alteração não ter sido comunicada à população ou à autarquia.

Como solução a vereadora diz que foi informada que o ACES do Médio Tejo já está a proceder à contratação de uma médica aposentada para fazer o ficheiro de Mouriscas, embora ainda não tenha datas concretas. Há burocracias que têm de correr os trâmites normais até poder haver uma data concreta.


Para além de Mouriscas também Rio de Moinhos está sem médico de família, mas o número de pessoas sem recurso a cuidados médicos é mais inferior porque recorrem a outros postos médicos que lhes estão mais próximos.

 


Raquel Olhicas, vereadora CM Abrantes

Recorde-se que Abrantes é um dos municípios que já tem a transferência de competências aceite, mas este acordo coloca apenas na responsabilidade da autarca os assistentes operacionais e as infraestruturas. Toda a gestão, contratação ou alteração de recursos médicos e de enfermagem continua na tutela, ou seja, na Administração Regional de Saúde ou, neste caso, no Agrupamento de Centros (ACES) de Saúde do Médio Tejo.

Em 30 de outubro deste ano ficou a saber-se que o ACES Médio Tejo tem cerca de 50.000 utentes inscritos e frequentadores sem médico de família atribuído, num universo de 225.000 utentes. De acordo com esta informação do Agrupamento de Centros de Saúde seria necessária a entrada direta de 29 médicos para fazer a cobertura total da população. Ainda de acordo com informação de 30 de outubro os concelhos de Abrantes, Alcanena e Ourém eram os mais necessitados.

Uns dias antes, a 19 de outubro, ficou a saber-se que o Governo vai abrir concurso com 200 vagas de internato para médicos de família em Lisboa e Vale do Tejo.

Manuel Pizarro, ministro da Saúde, falava na Comissão da Saúde, onde foi ouvido, a pedido da Iniciativa Liberal, sobre o Relatório Anual de Acesso a Cuidados de Saúde nos Estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e Entidades Convencionadas, relativo a 2021, e do PS sobre as perspetivas e planos do Governo para o futuro do SNS e sobre o novo Estatuto do SNS.

Concelho tem 10 mil habitantes sem médico de família

Este caso de Mouriscas, registado no dia de hoje é apenas mais uma freguesia a entrar, ou a agravar, a lista de utentes sem médico de família. As necessidades atuais do ACES Médio Tejo apontam a uma entrada imediata de 29 médicos de família, coisa que parece distante, mesmo com o anúncio da abertura de 200 vagas para a ARSLVT.

Raquel Olhicas frisou que o concelho de Abrantes tem cerca de dez mil utentes sem médico de família, mas não significa que não tenham cuidados de saúde. A vereadora, enfermeira de formação académica, explicou que há uma série de localidades que estão abrangidas por consultas, só que os clínicos em causa não estão alocados ao Centro de Saúde, como se diz nas aldeias.

Raquel Olhicas apontou 670 utentes de Carvalhal e 519 em S. Miguel do Rio Torto que têm um médico dez horas por semana. Outra das médicas contratadas pelo ACES Médio Tejo presta serviço no Pego (2152 utentes) e Alvega (1313 utentes).

E agora virá outra médica contratada para colmatar a falta de médico de família em Mouriscas (1500 utentes) e Rio de Moinhos (cerca de 60, porque os outros recorrem a outras unidades do concelho).

Em termos oficiais, Abrantes tem dez mil utentes sem médico de família, mas, na prática o número efetivo de utentes sem acesso a cuidados médios é bem inferior.

 

Raquel Olhicas, vereadora CM Abrantes

Estes utentes que não têm médico de família podem recorrer à consulta de recurso de Abrantes, na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de Abrantes, com uma médica a fazer esse apoio. O grave da situação é que tanto nas aldeias como no recurso a marcação de consultas está com tempo de espera superior a um ou dois meses, o que leva a população ao desespero. E isso faz com que aumentem os episódios de urgência no Hospital, neste caso na unidade de Abrantes.

USF D. Francisco Almeida reforçada com mais um médico

Dentro de todos os problemas na área da saúde há uma boa notícia. A Unidade de Saúde Familiar D. Francisco Almeida vai ter mais um clínico já a partir de dezembro.

A vereadora Raquel Olhicas espera que este médico fique muito tempo em Abrantes. E apesar de a USF ser em Abrantes e, à partida, para os habitantes da zona urbana há um acordo de poderem ser aceites inscrições de utentes de outras zonas, mesmo das mais rurais.

Raquel Olhicas, vereadora CM Abrantes

A USF D. Francisco de Almeida fica situada na antiga garagem dos “Claras” em Abrantes e é uma das 10 Unidades de Saúde Familiar do Médio Tejo.

O ACES do Médio Tejo

O ACES Médio Tejo tem um território com 2.706 quilómetros quadrados e abrange 11 municípios com cerca de 225 mil utentes ou frequentadores, sendo composto pelos municípios de Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Mação, Ourém, Sardoal, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha, todos no distrito de Santarém.

Este agrupamento é parte integrante da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) e tem, no global [dados retirados da página oficial da ARSLVT], 123 médicos e 207 enfermeiros. Conta ainda com 159 assistentes técnicos e 67 operacionais a que se podem juntar 38 técnicos de diagnóstico e terapêutica, quatro técnicos superiores de saúde e três informáticos.

Da estrutura do ACES Médio Tejo fazem parte 8 UCC - Unidades de Cuidados da Comunidade (Abrantes, Almourol, Cova Iria, Maria Dias Ferreira, Mira Zêzere, Olhos de Água, Ourém e Torres Novas), e 9 UCSP - Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Mação, Ourém, Sardoal, Tomar e Torres Novas).

No caso da UCSP de Abrantes é dirigida por Rita Soares e contempla 9 médicos, 19 enfermeiros, 14 secretários clínicos e tem polos (postos médicos) em Alferrarede, Alvega, Carvalhal, Mouriscas, Pego, Rio de Moinhos, S. Facundo, S. Miguel Rio Torto e Vale das Mós.

O ACES do Médio Tejo tem ainda no seu território as USF ou Unidade de Saúde Familiar (Almonda, Auren, Beira Tejo, Cardillium, Francisco Almeida, Fátima, Locomotiva, Marmelais, Nove Torres e Santa Maria de Toma).

Abrantes conta com duas USF, a D. Francisco Almeida que tem 5 médicos, 4 enfermeiros, 4 secretários clínicos e dois internos, a e Beira Tejo (Rossio ao Sul do Tejo) que conta com 5 médicos, 4 enfermeiros e 4 secretários clínicos. A USF Beira Tejo serve ainda os postos médicos de Tramagal e de Bemposta, para além da sede, em Rossio ao Sul do Tejo.

De notar que o ACES Médio Tejo tem ainda a Unidade de Saúde Pública (USPMT) com 5 médicos especializados em Saúde Pública, 7 enfermeiros, 7 secretários clínicos, 13 técnicos ambientais, 3 técnicos de saúde oral e 2 internos.

Há ainda no ACES a URAP - Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados com sede em Tomar e que abrange especialidades técnicas como Nutrição e Dietética, Serviço Social, Medicina Dentária, Radiologia, Terapia Ocupacional, Fisioterapia e Cardiopneumologia.