Há uma nova resposta no concelho de Mação para responder às listas de espera para as cirurgias oftalmológicas às cataratas.
Em 2018 o médico Álvaro Carvalho criou uma Fundação com o seu nome, por desafio de um conjunto de amigos, que se constituíram como beneméritos da nova instituição. O médico, natural da beira, mas residente em Oeiras escolheu esta região do interior do país, de baixa densidade, com maior dificuldade de aceder a clínicas ou com maior dificuldade financeira para poderem ir aos grandes centros. Depois identificou, com as comunidades as maiores preocupações. As cirurgias oftalmológicas, nomeadamente as cataratas, foi um dos problemas identificados. A par das cataratas, a dermatologia foi, e é, outra especialidade com pouca resposta no interior do país. E à dermatologia a fundação acrescentou também a cardiologia.
O certo é que em 2018 foram identificadas as necessidades e a partir de 2019 começaram as reuniões com as autarquias desta região (Beira Alta) para criar as condições de proporcionar a estas pessoas um acesso mais rápido às cirurgias. “Então fizemos acordos com as câmaras municipais. As autarquias pagam metade da cirurgia e levam os utentes às clínicas onde as mesmas são executadas”, explica o médio e presidente da Fundação Álvaro Carvalho.
E como é que funciona? A Fundação conseguiu um acordo com uma clínica que baixou o preço de cada cirurgia. Em vez de 2.200 euros, a clínica cobra 1.100 euros. Depois a Fundação garante comparticipação de 550 euros e as câmaras os restantes 550 euros.
A Fundação Álvaro Carvalho já proporcionou mais de um milhar de cirurgias às cataratas no âmbito do projeto, a que chamou "Dar Visão ao Interior". A fundação tinha parcerias com nove câmaras municipais das beiras a que se juntou Mação, a partir desta quinta-feira, 24 de outubro.
De acordo com a Fundação é feito um atendimento gratuito a doentes selecionados por critérios clínicos e sociais. Quer isto dizer que há sempre uma avaliação clínica, das necessidades de cada pessoa, e depois os Municípios aferem também as questões sociais.
Explicou o médico que o objetivo é chegar a todo o lado, mas se existir uma pessoa ainda na vida ativa que necessite de “visão para poder trabalhar” terá prioridade na lista, por exemplo, em relação aos reformados. O médico indica que ninguém fica de fora, mas tem de se olhar para alguns pormenores importantes.
Neste momento há a colaboração com a Clínica Oftalmológica da Beira Interior (COBI) Castelo Branco, que será o local onde os habitantes de Mação que venham a ser abrangidos por esta iniciativa vão ser sujeitos às cirurgias.
De acordo com informação do presidente da Câmara Municipal de Mação, Vasco Estrela, o seu concelho tem inscritas na Unidade Local de Saúde do Médio Tejo 68 cidadãos que estão à espera de cirurgia. Mas depois indicou que há um público-alvo que pode e deve ser trabalhado. Ou seja, muitas vezes há pessoas que só recorrem ao médico quando estão nos limites e não quando começam a sentir problemas, neste caso na visão.
Vasco Estrela indica que a sua autarquia olha para este acordo “numa perspetiva de apoio social aqueles que mais precisam, ainda mais na saúde.”
O autarca maçaense destaca ainda que para “ultrapassar alguns bloqueios o executivo aprovou, por unanimidade, este protocolo.”
Vasco Estrela mencionou ainda os representantes das Instituições Particulares de Solidariedade Social, lares e centros de dia, as juntas de freguesia e também a Associação dos Bombeiros Voluntários que podem promover o protocolo e identificar pessoas para poderem entrar neste protocolo com a fundação Álvaro Carvalho. E abriu portas e eventuais colaborações no futuro.
Álvaro Carvalho explica ainda que a fórmula é fazerem grupos de 12 cidadãos para cada dia de cirurgias.
O médico explica ainda que a autarquia estabelece os critérios sociais. E dá exemplos. Alguns têm a ver com rendimentos. Há quem faça por rendimento do agregado. Pessoas com subsistemas de saúde ou seguros, são operados pelos subsistemas, e não nestes acordos.
Ao manifestar que espera que corra bem em Mação revela que Almeida já tem 220 operações concretizadas.
Álvaro Carvalho faz questão de explicar os problemas sociais e de saúde que podem surgir por causa das cataratas. Por exemplo, quedas que provocam fraturas e que podem trazer complicações às pessoas mais idosas. “Há doentes que não viam as cores da televisão e depois da cirurgia acham surpresa de haver cores na televisão. Ou, ‘eu já não tinha a imagem do meu filho e agora vejo-o bem.’ E não são apenas pessoas idosas. Há pouco tempo tive duas pessoas, condutores de pesados, por causa da dificuldade de visão não tiveram renovação das suas cartas de condução. E são pessoas ativas, com menos de 60 anos.”
Depois da assinatura do protocolo Álvaro Carvalho e Vasco Estrela tiveram uma reunião com o diretor clínico dos hospitais da ULS do Médio Tejo para começar o trabalho de agilização dos nomes que estão nas listas de espera do Serviço Nacional de Saúde e perceber quais podem ter cirurgias ao abrigo deste novo acordo.