Ambiente Operadores do Ecoparque do Relvão escrevem a António Costa a pedir conclusão do IC3/A13
Operadores de tratamento e transporte de resíduos do Ecoparque do Relvão, na Chamusca (Santarém), pediram ao primeiro-ministro “a célere conclusão” do IC3/A13, “sob pena de ficar comprometido o investimento e desenvolvimento industrial e social da região”.
A missiva foi enviada a António Costa na sequência de uma reunião que juntou autarcas, os membros do Observatório Nacional dos Centros Integrados de Recuperação, Valorização e Eliminação de Resíduos perigosos (CIRVER), a Comissão de Acompanhamento do Eco Parque Relvão, associações de produtores agrícolas e florestais e empresários que operam no território, afirma uma nota divulgada hoje pela Câmara da Chamusca.
Sem a conclusão do IC3/A13, a acessibilidade ao Ecoparque do Relvão, o único no país que recebe resíduos industriais perigosos, põe em risco, nomeadamente, “o ‘cluster’ de gestão de resíduos da Chamusca ou a rede de simbioses industriais da região da Lezíria e Médio Tejo, o escoamento de produto e receção de matérias-primas, o trânsito intermodal, o desenvolvimento de projetos no âmbito agrícola e florestal, entre outros de valor acrescido, orçados em vários milhões de euros”, sublinha.
Na reunião, realizada no passado dia 23 de março, foram debatidos os “constrangimentos e problemáticas na circulação rodoviária com destino ao Ecoparque do Relvão, na freguesia da Carregueira (Chamusca), e a necessidade urgente da conclusão do IC3/A13”, acrescenta.
“O desenvolvimento da Lezíria do Tejo e do Médio Tejo, que abrange 24 municípios e uma população de cerca de 467 mil habitantes, tem sido conseguido através de um grande esforço do poder local que tem tentado contrariar a tendência de desertificação do interior do país com a atração de empresas e indústrias de elevado valor acrescentado”, refere, sublinhando que “ambas as regiões são responsáveis por 15% da riqueza criada no Centro e Alentejo, representando mais de 45 mil empresas e mais de 100 mil trabalhadores”.
Para os participantes na reunião, apesar disso, estas regiões deparam-se com “barreiras inultrapassáveis, que requerem uma resposta de âmbito nacional”.
“A atração de investimento produtivo, que deve ser considerado um desígnio nacional é consistentemente bloqueado pela realidade infraestrutural da região, nomeadamente a sul do Tejo pela ausência de uma ligação ferroviária e rodoviária eficaz, em que a conclusão do troço do IC3/A13, que permitirá ligar Vila Nova da Barquinha a Almeirim, tem sido identificada em vários documentos como uma prioridade em termos de investimentos infraestruturais no país”, realçam.
O lanço do IC3/A13 Vila Nova da Barquinha – Chamusca – Almeirim “foi uma promessa para a população da região aquando da instalação dos CIRVER, em 2007, numa área de influência direta que abrange os concelhos da Barquinha e Entroncamento (Médio Tejo) e Golegã, Chamusca, Alpiarça e Almeirim (Lezíria do Tejo)”, acrescenta a nota.
Os participantes na reunião lembram que, quando foi anunciada a execução do troço, foi referido “o incentivo ao desenvolvimento económico e territorial (novas indústrias, melhoria do escoamento de mercadorias, redução de custos para empresas e comunidade), assim como de redução de riscos e de impactos ambientais”.
Além dos dois únicos CIRVER existentes no país, a Chamusca acolhe quatro unidades de tratamento e eliminação de resíduos hospitalares, que servem igualmente todo o país, duas unidades de compostagem, “que resolvem inúmeros problemas ambientais, nomeadamente de lamas de ETAR (Estações de Tratamento de Águas Residuais)”, uma central de biomassa, que dá resposta a subprodutos da limpeza da floresta em toda a região Centro, e duas unidades de regeneração de óleos usados.
Acolhe, ainda, o sistema de eliminação de resíduos industriais banais e o sistema de recolha, tratamento, triagem e eliminação de resíduos sólidos urbanos, que serve 16 concelhos da região, acrescenta.
“Estas unidades implicam a movimentação constante de veículos pesados que, face à inexistência de melhores acessibilidades, acaba por se efetuar dentro de povoações”, sublinha.
O comunicado alerta para a ocorrência frequente de acidentes, quer nas estradas nacionais quer nas municipais, dando o exemplo de “derrames de lamas de ETAR, espalhamento de material hospitalar cirúrgico proveniente dos vários hospitais centrais a nível nacional, acidentes rodoviários com capotamento de viaturas de transporte de resíduos industriais perigosos líquidos, na zona de Ulme, junto à ribeira que irriga todos os campos de arroz do concelho e que desagua no Tejo, podendo criar um acidente ambiental incomensurável”.
“Além destes acidentes, registaram-se também desastres com resíduos industriais perigosos, nomeadamente explosivos, numa das instalações CIRVER, criando um clima de insegurança nas populações, que temem pela sua segurança, bem-estar e saúde”, acrescenta.
Segundo a nota, o município da Chamusca e a Associação Eco Parque do Relvão realizaram vários estudos de tráfego para caracterizar o impacto do trânsito pesado no território da Chamusca e na sua população, bem como nas empresas que operam na região.
A ponte João Isidro dos Reis (que atravessa o Tejo ligando o concelho da Chamusca ao da Golegã) não permite o cruzamento de duas viaturas pesadas e é apontada como “um dos principais constrangimentos” pelos condicionamentos recorrentes, “em ambos os sentidos, durante largas horas, formando filas intermináveis de espera, que se tornam um pesadelo para quem tem de as enfrentar regularmente”, segundo o presidente da Câmara da Chamusca, o socialista Paulo Queimado.
“Este problema coloca muitas vezes a vida humana em risco, pela possibilidade de falta de assistência médica”, frisou.
Segundo o autarca, em média, mais de mil veículos pesados de mercadorias atravessam diariamente a ponte da Chamusca com destino à Resitejo e ao Eco Parque do Relvão, “deixando para trás um cheiro nauseabundo e o receio de que, um dia, possa haver um acidente grave, com resíduos tóxicos”.
Para Paulo Queimado, “o transporte em grandes quantidades de resíduos, sejam eles perigosos ou não, provoca grandes constrangimentos na população do concelho”.
Lusa