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Reportagem

Nos 75 anos da Torre do Relógio de Penhascoso os sinos voltaram a tocar (c/áudio e fotos)

21/08/2023 às 16:22
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Corria o ano de 1948 quando foi inaugurada a Torre do Relógio do Penhascoso. Situada “na esquina” no entroncamento de estradas, a Nacional 3 que segue para Mação e a estrada para Aboboreira, esfuma-se no tempo o motivo para a construção de uma torre, sem ser de uma igreja, e ali colocar um relógio.

 

Ainda há gente que viveu esse tempo. Tinham 5 ou 12, ou 20 anos quando a Torre foi inaugurada e levou toda a aldeia do Penhascoso à Festa. E, na altura, não havia “Aldeia do Rock”, mas havia quem tivesse vontade de fazer coisas.

E a torre terá nascido da vontade de homens que pretendiam ter na aldeia um marco “lá no alto” que pudesse dar as horas para a terra. E no alto para que o bater dos sinos pudesse ser ouvido nas redondezas, quando os penhascosenses andavam nas hortas, à volta do casario.

Terá sido assim que nasceu a ideias. Como qualquer ideia. Alguém disse vamos construir uma torre alta e alguém disse “construam a torre que eu compro e ofereço o relógio”. Manuel Matos Godinho foi o benemérito que comprou o relógio e o sino depois de a torre ser construída por “subscrição pública”.

Adriano Clarinha, 95 anos, e o irmão, José Clarinha, mais novo (80 anos) têm memórias desses tempos. Lembram-se quando quiseram construir a torre. Adriano tinha 20 anos e já se tinha feito à vida, para trabalhar nos caminhos de ferro. Mas recorda-se bem do início. O irmão, mais novo, tinha cinco anos quando a torre foi inaugurada. Mas o que se recordam mesmo é que o pai “acarretou muitas cargas de pedra com a junta de bois.”

José Clarinha recorda que tudo começou com uma comissão liderada por Manuel Pereira. “Esse homem devia ser recordado, porque chegou a levantar dinheiro em nome dele, porque o dinheiro não chegava. Até foi feito um cortejo de oferendas e o lavrador Manuel Matos Godinho, além de oferecer a torre e o relógio e deu mil escudos e 60 alqueires de trigo.” E depois ainda acrescenta que “A filha dele (Manuel Matos Godinho), a dona Anita até dizia que ele andava maluco porque naquele tempo dar 15 contos, que foi quanto custou na altura o relógio e os sinos” o que era uma fortuna. “O povo na altura era muito unido aqui.”

 

Adriano e José Clarinha

José Godinho, nasceu em 1943, mas diz ainda se lembrar das casas “aqui à volta”. Já irmão, Adriano, recorda o tempo mais recente, década de 80, quando houve um novo peditório para a compra de um novo relógio. Isto porque ali, na torre do Penhascoso, o relógio que no sábado passado (19 de agosto) começou a dar horas é já o quarto. Mesmo assim, os três anteriores podem ser vistos no espaço que agora vai servir para visitação. E o primeiro relógio, o de 1948, com pesos de pedra ainda lá está, mesmo sem funcionar. Mas o sistema de cordas e pesos ainda existe no sítio.

Fernando Matos, 95 anos, sentado à beira da torre também puxa das memórias. Tem 95 e tinha 20 quando a torre foi construída. Já tinha ido trabalhar e viver ara Lisboa, mas recorda-se do tempo que vinha à terra. A torre foi construída “com peditórios. Mobilizava-se a população da aldeia. Todos participavam. Todos queriam ter um relógio. Quem é que não queria.”

Fernando Matos, hoje, olha para outras realidades, mas ainda se lembra do motivo de construir uma torre: “porque é um ponto alto. Se a torre não estivesse alta na periferia não se ouvia a música do relógio.”

Em 1948 foi feita uma festa muito grande que juntou toda a população. “Só não veio quem não podia andar”, recorda Fernando Matos que do alto dos 95 anos só não subiu à torre, agora miradouro, porque as pernas já não o deixam. Mesmo assim fez questão de estar nesta festa dos 75 anos.

 

Fernando Matos

Fernando Matos foi à festa tal como Adriano Clarinha. Ambos com 95 anos, estevireram largos minutos a olhar para o relógio, a olhar para a torre, quem sabe a rebobinar histórias que pouco a pouco vêm à tona da sua vida.

A torre precisava de ser requalificada. Foi a Junta de Freguesia de Mação, Penhascoso e Aboboreira que do orçamento próprio fez o trabalho. Por um lado a requalificação do edifício e, por outro, a aquisição de um novo relógio que permitisse que a torre voltasse ao desígnio inicial: dar música e dar as horas.
José Fernando Martins explicou à Antena Livre que a ideia iniciar era recuperar o edifício, mas permitir que o mesmo não fique de cara lavada, mas com as portas fechadas. Por isso foi comprado um novo relógio que está ligado aos 5 mostradores no topo da torre e aos sinos. E depois foi construída uma espécie de campânula que permite fechar o acesso ao terraço onde estão os sinos e, desta forma, evitar que a chuva entre pelo interior da torre provoque a sua deterioração.

“Quisemos juntar a requalificação da torre aos 75 anos da sua construção porque é sempre uma data assinalável”, justificou José Fernando Martins. O autarca indicou que o edifício precisava de obras, que o relógio já não funcionava porque entrou muita humidade. “É um monumento que fica agora aberto à comunidade, não abrimos hoje e batemos palmas e depois fica fechado. Não. É um espaço para as pessoas visitarem, é um miradouro para se poder olhar à volta e é o sino que continua a bater as horas”, afirmou o presidente da Junta de freguesia que explicou de seguida que no edifício ao lado vai funcionar o serviço administrativo da junta, o posto dos CTT e a biblioteca. E é aqui que quem quiser subir à torre do relógio pode pedir a chave para observar a região. “O que fizemos foi 4 em 1”, garantiu José Fernando Martins destacando a melhoria dos serviços e a concentração dos mesmos no mesmo local. Fica a faltar agora a melhoria do.antigo posto dos correios

Há ainda outro pormenor. De acordo com o presidente da Junta de Freguesia em dias de festa da aldeia a torre estará aberta assim como iluminada, como que um marco a chamar os visitantes do Penhascoso.

Há nesta requalificação uma ideia de ter um espaço de memória. Quem sobe, olha para cima e para chegar ao terraço onde estão os sinos. É só esperar para que não comecem a tocar para não ficarem com a cabeça a “zumbir”. Depois, quando começam a descer podem observar o primeiro relógio, cujo mecanismo continua no sítio, mesmo que sem funcionar. E à medida que vão descendo podem ver fotografias várias da torre, dos relógios, algo que funcionará como museu. Tanto mais que estão dentro da torre os três relógios anteriores. O primeiro, ainda com mecanismo manual de pesos e cordas e depois, os outros dois, já eletrónicos.

Aliás, José Fernando Martins aponta à colocação do segundo relógio a grande alteração à torre. O primeiro, em 1948, tinha um mostrador, o que está mais alto.

Depois, quando mudaram o relógio, o mesmo permitia a multiplicação de mostradores e foi então que colocaram um “relógio” em cada face da parede. Ou seja um para cada ponto cardeal, sendo que parede fronteira da torre ficou com dois mostradores.

Hoje, com o novo relógio, já com tecnologia GPS que permite que o mesmo não sofra atrasos ou adiantos, os cinco mostradores dão a hora correta e à hora certa batem as badaladas. A festa estava prevista para as 5 da tarde e aconteceu mesmo. Ao som das badaladas eclodiu um aplauso generalizado de quem quis assistir à festa.

 

José Fernando Martins, presidente União de Freguesias 

Entre os convidados estava o presidente da Câmara de Mação, Vasco Estrela, que deixou a primeira palavra aqueles que há 75 anos acharam que era útil a construção desta torre. O presidente da Câmara de Mação vincou a ousadia destes que, à época, tiveram a ousadia de fazer uma coisa diferente.
Depois uma palavra para o presidente da União de Freguesias por ter avançado para a requalificação de um espaço que diz muito a estas gentes. “A preservação das memórias é sempre importante para perspetivar o futuro.”

Vasco Estrela notou ainda a melhoria dos serviços da junta de freguesia, deixando um espaço que tinha poucas condições, até ao nível de segurança.

Vasco Estrela, presidente CM Mação

O sino bateu as 5 da tarde. Presidentes da Câmara e da Junta descerraram a placa evocativa dos 75 anos da torre do relógio. Na rua o povo cantou os parabéns à torre. Quem quis subiu ao terraço. Os mais velhos foram abrindo o baú das memórias. Isto foi à tarde. À noite seguiu a festa, o segundo dia da festa na Aldeia do Rock.