ALTERNATIVAcom Movimento assinala 5 anos de vida e líder Vasco Damas disponibiliza-se para ser candidato à Câmara de Abrantes (c/áudio)
O movimento cívico ALTERNATIVAcom assinalou o quinto aniversário com um fórum em que convidou quatro autarcas para virem a Abrantes falar de experiências dos seus concelhos. Mas a notícia acabou por acontecer no fecho do fórum quando Vasco Damas pré-anunciou a sua candidatura à Câmara de Abrantes. Não foi um anúncio formal, mas o líder do movimento anunciou a “disponibilidade para, se se mantiverem as conjunturas atuais, ser candidato a presidente da Câmara de Abrantes.” Vasco Damas encerrou desta forma um fórum onde se discutiram várias temáticas com foco no desenvolvimento de cidades e concelhos de diversos pontos do país.
Vasco Damas
Para esta conversa o ALTERNATIVAcom convidou quatro autarcas que Vasco Damas apresentou com projetos que existem nestes territórios e que gostaria de poder replicar em Abrantes. Miguel Borges e Paulo Fernandes, presidentes de Câmara eleitos pelo PSD em Sardoal e Fundão, respetivamente, e ainda Vítor Marques e José Relva, presidentes da Câmara de Caldas da Rainha e da Assembleia Municipal da Guarda, eleitos por movimentos independentes.
E apontou ao início destes fóruns. “Iniciámos o Fórum Democrático há três anos com o mote, ‘onde vozes diferentes fazem se ouvir’ e só assim chegamos mais longe.”
Depois justificou o convite a cada um dos oradores. “Porquê estes? Porque fomos apontando exemplos de coisas que podem ser replicadas em Abrantes. Não temos de ter medo de replicar coisas bem-feitas em Abrantes”, indicou para de seguida dar o exemplo do benchmarking do Fundão para Abrantes: há 20 anos era a capital da cereja. Hoje sem perder a identidade tem um cluster industrial e é um referencial do interior do país.
Depois passou para Miguel Borges, que é um dos seus referenciais na política e que tem uma expressão que usa muito: interioridade rima com oportunidade e com qualidade e nunca com inferioridade.
Depois as Caldas da Rainha, um concelho que “nos acolheu de braços abertos, pelo movimento (VM - Vamos Mudar e Vítor Marques). Tenho uma inveja grande pelo vosso Centro Cultural. Era o verdadeiro multiusos que gostava de ver aqui em Abrantes.”
Já sobre a Guarda aportou a uma política cultural muito forte e que gostou de conhecer.
Passadas as apresentações, Vasco Damas entrou no trabalho do ALTERNATIVAcom e referiu não ser fácil “estar na política e na oposição. Não é fácil estar na política com poder absoluto há quatro décadas. A nossa independência dá-nos outra forma de trabalhar.” Logo de seguida indicou que “os partidos são importantes na nossa democracia. Mas tem de ser trabalhada todos os dias.”
Revelou ainda ter tido convites de partidos de diversos quadrantes que nunca aceitou por querer pensar “pela minha cabeça e não estar dependente de ideologias ou cartilhas”, tendo repetido que pretende ofender quem está nos partidos.
Vasco Damas
Miguel Borges, presidente da Câmara de Sardoal, está a um ano de fazer os 12 de autarca e indicou que sendo presidente eleito por um partido e presidente da concelhia desse mesmo partido considera-se completamente livre.
E sobre a questão da interioridade destes territórios, notou que “há anos falar do interior era falar dos coitadinhos. Temos coisas boas e más como os grandes centros. Mas temos coisas que os grandes centros não têm. E temos uma coisa que é tempo. Temos equipamentos e temos uma coisa que os grandes centros não têm: tempo para usufruir.”
Logo de seguida referiu-se a uma aposta do seu concelho que coloca a política cultural e igual às outras prioridades.
A oferta cultural patamar idêntico às outras prioridades. Mas fez questão de frisar que, pessoalmente, não gosta “de tudo o que é cultura que fazemos em Sardoal.” Mas logo de seguida disse que tem linhas vermelhas nesta matéria.
Miguel Borges
Paulo Fernandes, o autarca do Fundão, foi desafiado a falar da forma como atrai pessoas para o seu concelho, pessoas e empresas. Em vídeo-chamada o presidente da capital da cereja começou por dizer que “às vezes jogar nas improbabilidades pode ter possibilidades.” E logo de seguida destacou outro patamar: às vezes ter preço difere de ter valor.
Paulo Fernandes não tem dúvidas que estes territórios ainda têm muito para poder ser trabalhado.
E, disse, é preciso ter em atenção que existem três tempos ou três tipos de tempo. Um tempo muito rápido outro lógico, mas temos um tempo emocional. “E há um tempo ético que também é muito importante.”
E há mais probabilidades de um território ser competitivos quando existem estas competências. Por exemplo, as economias circulares ou os circuitos curtos para os produtos endógenos. “Agora não temos problemas em arriscar políticas públicas. Somos [Fundão] muitas vezes território de projetos-piloto.”
Paulo Fernandes referiu que “o que vale, hoje, é onde as pessoas querem estar. Isto contraria a lógica das pessoas vão onde as empresas forem.
Ou então, quando há uma empresa temos de atrair mão de obra.”
Ou seja, de acordo com o autarca do Fundão, o tempo lógico não é a vantagem competitiva. “É mais importante apostar no tempo emocional.” E no que diz respeito a interior indicou “não é lógico dizer que estamos no interior quando atravessamos o país em duas ou três horas.”
Paulo Fernandes
Vítor Marques, autarca eleito em 2021 por um movimento de cidadãos, começou por focar que a ideologia política ou partidária não tem um peso muito grande nas autarquias, porque as pessoas votam nas pessoas. “É o foco nas pessoas. E é preciso envolver as pessoas porque cada território é um território diferente.”
Pode haver um programa eleitoral, mas só o envolvimento de todos pode permitir aplicar ou ajustar esse programa eleitoral.
Vítor Marques frisou que nas Caldas da Rainha, “tivemos a necessidade de desenvolver uma série de estudos. Desde logo o peso histórico do termalismo. Todos nós temos coisas que nos diferencia. Podemos replicar projetos, mas temos de ver as nossas potencialidades.”
E aproveitando a conversa do interior, fez questão de dizer: “nós sentimos o interior e estamos a 10 km do mar e a 80 km de Lisboa.”
Uma das forças do concelho das Caldas da Rainha tem sido o seu movimento associativo, que é muito forte, a começar na área social. E destacou a aposta na formação dos dirigentes associativos.
Sobre o seu concelho tem procurado mais proximidade nas 12 freguesias indicando, por exemplo ter orçamento participativo em todas por forma a aproximar as pessoas das decisões políticas.
Vítor Marques
José Relva, é o presidente da Assembleia Municipal da Guarda, eleito por um movimento independente. Não abordou questões muito executivas, mas vincou um papel do órgão a que presidente no acompanhamento e fiscalização do executivo, que sendo de maioria relativa, tem vivido o 2024 com duodécimos, uma vez que o orçamento não foi aprovado.
Sobre a interioridade, frisou ser sempre discutível. A Guarda está à mesma distância de Lisboa ou Madrid, ou “a praia mais perto de Salamanca é, imagine-se, Aveiro.
José Relva abordou depois um dos problemas o interior, desmistificando-o. “O grande problema destes territórios não é ter muitos idosos. Quer dizer que a esperança de vida aumentou. O que faltam são jovens.”
E um dos grandes problemas é mesmo nacional. “O meu voto na Guarda não vale o mesmo que noutro lado. Guarda tem 3 deputados e Aveiro tem 16.”
Mas ser deste “interior” tem vantagens que “é estar a 15 minutos de tudo.” José Relva destacou os dois pontos fundamentais para atração de jovens ou casais jovens: educação e saúde. E se um está, mais ou menos, resolvido o outro é o drama de todo um país. A saúde. “Não podemos atrair casais férteis se não tivermos condições, principalmente, na saúde.”
Um outro tema abordado foi a comunicação e a sua importância, com o líder do movimento ALTERNATIVAcom a dizer que esse é o grande problema de Abrantes, a par da perda de identidade. E em Abrantes, afirmou, há um esforço de fazer comunicação para dentro, quando deveria haver um reforço de comunicação para fora.
Ambas, afirmaram, são muito importantes. Tanto a interna como externa.
José Relva
Em declarações à Antena Livre o líder do movimento ALTERNATIVAcom disse que o Fórum correspondeu às expetativas e frisou que a melhor resposta é uma pergunta: “Quando foi a última vez que tivemos em Abrantes quatro presidentes de câmara, que à última hora foram três, na mesma sala a debater assuntos que são mais aqueles que nos aproximam do que aqueles que nos dividem?”
São cinco anos de ALTERNATIVAcom e Vasco Damas indica que os objetivos iniciais do movimento continuam em cima da mesa. “Após rever entrevistas desses momentos iniciais, transversalmente as coisas continuam a fazer sentido e o anúncio que acabei de fazer [disponibilidade para ser o candidato à Câmara em 2025] é muito com base na experiência adquirida.”
Indicando que o movimento está, cada vez mais preparado, considera que é uma alternativa que vai fazendo sentido a cada dia que passa “e é por causa disso que tenho muito orgulho em afirmar que Abrantes tem alternativa, que se afirma cada vez mais com uma forma militante e com uma cidadania ativa e que fazia falta à cidade de concelho de Abrantes.”
Uma das questões que mais críticas que têm levantado os movimentos de cidadãos tem a ver com os processos de candidatura. Num partido são apresentadas as assinaturas necessárias à sua formalização e está pronto a ir a eleições sempre. Nos movimentos de cidadãos em cada ato eleitoral têm de ser recolhidas as assinaturas que permitem que possam concorrer às autárquicas. Vasco Damas aportou à experiência de 2021 para não se mostrar preocupado com esse processo, mas sabendo que é uma verdadeira odisseia. “Se calhar vamos aproveitar esses momentos para ouvir as pessoas e poder apresentar propostas para melhorar a vida das pessoas.”
Questionado sobre a bandeira para este último mandato diz que vai ser a continuidade. Indicou estar a mudar a estratégia de comunicação. Em vez de apresentar propostas, “estamos a apresentar sugestões, sempre com um olhar crítico para mudar o território.”
Vasco Damas
O sábado, dia 16, contou, naturalmente, com bolo e os presentes cantaram os parabéns aos 5 anos do ALTERNATIVAcom.