Abrantes Santa Casa da Misericórdia vai criar Núcleo Museológico e mostrar espólio
Realizou-se esta sexta-feira, dia 15 de novembro, o I Encontro de Museologia da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes. Num auditório bem composto e recheado de especialistas em história, foi revelado o grande objetivo do evento.
João Pombo, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes, agradeceu a presença de todos e disse que o I Encontro de Museologia da Santa Casa de Abrantes “marca o arranque do futuro Museu desta instituição”.
“A cooperação entre instituições e a troca de experiências, como a proporcionada por este encontro, são essenciais para alcançarmos o nosso objetivo final, que é a criação do Museu”, declarou o provedor. João Pombo afirmou também que o Museu “é um sonho” de há muito e que pretende ter “patente para os vindouros o que foi, o que é esta nobre instituição”.
João Pombo, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes
O presidente da Câmara Municipal de Abrantes agradeceu à Santa Casa da Misericórdia de Abrantes pela realização do evento que, segundo disse “se enquadra completamente no contexto da estratégia, quer do concelho de Abrantes, quer do Médio Tejo”. Manuel Jorge Valamatos relembrou o trabalho já feito na Igreja da Misericórdia e da “importância de colocar todo este património ao serviço da museologia e do turismo”. Disse querer “em articulação com os nossos serviços de Turismo e na rede de Museus do Médio Tejo, conseguir valorizar todo este património e pô-lo ao serviço da comunidade e do nosso território”. O presidente da Câmara de Abrantes referiu ainda os “grandes investimentos” que a Autarquia tem vindo a fazer “nos nossos museus, nas nossas estruturas culturais” e declarou que “hoje, aqui, será mais um apontamento de futuro com este sentimento de valorização do património local”.
Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara Municipal de Abrantes
Ana Paula Remédios é mesária da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes e é a grande impulsionadora do projeto do Núcleo Museológico. A sua «missão» neste Encontro foi a de falar sobre o espólio da instituição e dos objetivos da mesma.
Numa casa que já conta 530 anos “de história e de apoio à comunidade”, Ana Paula Remédios confessou que “sempre me disseram que a Sala do Definitório e a mesa central são únicas a nível nacional”. A Sala do Definitório da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes é um dos elementos de grande interesse a nível cultural e agora, também museológico.
A mesária adiantou que um inventário já tinha sido feito pela União das Misericórdias Portuguesas e que “isso era meio caminho andado para constituir o Núcleo Museológico”. Lembrou também que “a Igreja já foi classificada e passou a ser Património de Interesse Público” e disse esperar “que se possa fazer história com este dia. Que seja verdadeiramente um ponto de partida para a concretização do Núcleo Museológico e que este Encontro seja um momento de reflexão e partilha para o efeito”.
Ana Paula Remédios, mesária da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes
Seguiram-se depois os painéis de apresentação e discussão e logo no primeiro painel da manhã, sobre «A importância na constituição do Núcleo Museológico da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes», ouviu-se Inês Dentinho, administradora executiva do Fundo Rainha D.ª Leonor, tecer os mais rasgados elogios, quer aos objetos que irão integrar o futuro Núcleo Museológico, quer ao trabalho que a instituição tem feito de preservação dos mesmos. “Fantástico, meritório, hercúleo, exemplar”, foram alguns dos termos utilizados. Inês Dentinho deixou ainda algumas sugestões para que o futuro Núcleo Museológico venha a contar com todos os aspetos de segurança e os melhores meios de exposição. Disse ainda que a Santa Casa da Misericórdia de Abrantes “é um farol para todas as Misericórdias”.
Já Mariano Cabaço, do Gabinete da Cultura da União das Misericórdias Portuguesas falou das “múltiplas realidades museológicas nas Misericórdias do país” e disse que a instituição abrantina´”é um exemplo paradigmático que é único” em Portugal, pois “ainda mantém a unidade arquitectónica” de uma Misericórdia, com todos os edifícios incluídos. “O vosso exemplo é tudo o que há de excelência em todas as Misericórdas”, asseverou Mariano Cabaço.
Por parte da Rede de Museus do Médio Tejo falou a arqueóloga Filomena Gaspar, que também é funcionária da Câmara de Abrantes. Recordou que a Santa Casa “conta a história de Abrantes” e que afirmou que “o trabalho feito tem sido excelente”.
No futuro próximo, Filomena Gaspar espera que o Núcleo Museológico agora apresentado venha a integrar a Rede de Museus do Médio Tejo, bem como as Rotas do Médio Tejo.
O segundo painel debruçou-se sobre o tema «Investir na Cultura». E porque “cultura é educação e educação é cultura”, a professora Luísa Oliveira, diretora geral da Administração Escolar, falou da cidadania escolar, onde afirmou que esta “é marcada por desigualdades e acessos diferentes a direitos e deveres”.
Já o vereador com o pelouro da Cultura na Câmara de Abrantes, Luís Filipe Dias, também ele licenciado em História, afirmou que “os desafios do dia a dia são vários” pois atualmente “é tudo muito fugaz”, daí a importância de se preservar o património. Deixou uma mostra do património museológico e cultural do concelho e lembrou que “com o MAC - Museu de Arte Contemporânea Charters de Almeida, fecha-se a rede que não se encerra nos equipamentos culturais”. Rede essa que disse “terá que ser aumentada com outros” e onde o Núcleo Museológico da Santa Casa de Abrantes “será muito importante”.
O vereador Luís Filipe Dias também explicou a forma como a cultura está ligada ao turismo e anunciou que o próximo Orçamento da Câmara Municipal terá cerca de 14 milhões de euros para a área cultural.
Já Manuel Maia Frazão, provedor de Pernes e membro do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas fechou os painéis com as considerações finais. Depois de tudo o que ouviu, disse, com algum humor, que lhe coube “a parte mais fácil porque já tinha sido tudo dito”.
À Antena Livre, o provedor João Pombo disse que “o trabalho está a começar a ser feito (...) pois está em constante movimento”. Reconheceu que o primeiro passo foi dado com a inventariação das peças e que já foram disponibilizadas duas salas para acolher o Núcleo Museológico. “Abrir a Santa Casa da Misericórdia à comunidade” é o objetivo primordial, para que se possa conhecer a sua história, a sua atividade, o seu espólio “para onde é que ela vai caminhar”. “Que a comunidade se envolva para nos ajudar” é outro desejo que ficou bem patente nas palavras do provedor.
Quanto a datas para que a abertura do Núcleo Museológico da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes seja uma realidade, João Pombo não se comprometeu mas lá adiantou que esperam que aconteça em maio de 2025, “se calhar, antes das Festas da Cidade”.
De tarde, os participantes no I Encontro de Museologia da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes, tiveram oportunidade de efetuar uma visita às salas que irão acolher o Núcleo Museológico, bem como à Igreja da Misericórdia, à Sala do Definitório e a alguns bens patrimoniais a preservar.