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Fotografia

Paulo Sousa mostra Paixão e Luz dos fogaréus em Sardoal (c/áudio e fotos)

30/03/2023 às 08:49
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A Procissão dos Fogaréus em Sardoal, na Quinta-feira Santa, apresenta umas características muito próprias, intimistas e que convidam à introspeção. A música marca um ritmo pausado, a iluminação apenas de velas e candeias criam sombras nos corpos e rostos dos crentes que acompanham o Senhor da Misericórdia pelas ruas escuras da vila.

E foi este cenário, único, que levou o jovem fotógrafo de Sardoal, Paulo Sousa, a encetar um desafio grande. Estamos na década de 80, muito antes de máquinas digitais ou de telemóveis que fazem quase tudo o que queremos. Com a sua máquina e com rolos adequados, quando em vez dos ISO ainda se falava em ASA, Paulo Sousa usava os de 800 ou mil ASA para as experiências. É que, em 1986, fotografar à noite, sem flash e com apenas meia dúzia de velas na procissão, era de uma dificuldade extrema. Para lá dos rolos, abertura de lente e tempos de revelação das películas mais longos, o Paulo foi fazendo as experiências e guardando, ano após ano, os registos destas procissões.

E estes registos foram sendo guardados para, com a pandemia, poderem ser revistos. E foi nesse tempo de “ficar em casa” que o Paulo foi passando todas as fotos do papel para formato digital e que acabou por dar origem a uma exposição que pode ser apreciada no Centro Cultural Gil Vicente, até 27 de maio, numa exposição intitulada “Paixão e Luz”.

As fotos representam os preparativos e a Procissão do Senhor da Misericórdia. E nesses anos, Paulo Sousa recordou que era o único a fotografar esta cerimónia, e sem flash.

Paulo Sousa reconhece que hoje, estas fotografias dos anos 80 e 90, podem ter “um valor histórico acrescido e constituir verdadeiros retratos da história de Sardoal e das suas gentes.”

 

Paulo Sousa

Na abertura da exposição, que contou com a presença de muitos amigos do Paulo, o presidente da Câmara Municipal, Miguel Borges, destacou a importância dos registos que foram sendo feitos ao longo dos anos. Mas deixou uma nota particular para o respeito que o fotógrafo sempre teve para com as cerimónias. Sendo momentos de silêncio, de recolhimento, o Paulo “não usava flash, nem atravessava a Procissão.” Miguel Borges deixou o apelo para que todos os que vão, nos dias de hoje ao Senhor da Misericórdia, para por os olhos no Paulo e não passarem a noite a usar flash ou a entrar pelos cortejos adentro. 

Miguel Borges, presidente CM Sardoal

À Antena Livre Paulo Sousa disse que no início não tinha as preocupações documentais que tem hoje, quando começa a Procissão. Eram experiências. E as fotografias a preto e branco são uma ínfima parte do espólio que tem nos seus arquivos. Muitas de pessoas que já não estão entre nós. Mas todas a mostrar um cenário de Fé e Tradição que, ainda hoje, se mantêm.

Nestes novos tempos a tecnologia facilita a documentação fotográfica, a tecnologia permite passar da cor para o preto e branco num estalar de dedos. Mas olhar aguçado continua o mesmo e o próprio Paulo diz que há sempre, a cada ano que passa, um qualquer pormenor que não foi visto noutras procissões.

E questionado sobre a possibilidade de lançar um livro indo ao “baú” cheio de “documentos” desde 1986, Paulo Sousa responde: “Um? Não. Dava para vários.”

Paulo Sousa

A exposição pode ser visitada no Centro Cultural Gil Vicente, até 27 de maio de terça a sexta-feira, das 16:00 às 18:00 e aos sábados das 15:00 às 18:00.

Na Semana Santa o horário é o seguinte: Domingo, 2 de abril, 15:00 às 19:00, Quinta-feira Santa, 15:00 às 21:30, Sexta-feira Santa, 7 de abril, das 15:00 às 19:00, e Sábado Santo e Domingo de Páscoa das 15:00 às 19:00.

Paulo Sousa nasceu em Sardoal em 1964 e é licenciado em fotografia. E entre prémios e distinções que recebeu foi distinguido, em 2009, pela Gala Antena Livre com o galardão “Cultura”.

O amor à fotografia leva o Paulo a circular “por aí” de máquina à tiracolo e não é de estranhar que nas suas redes sociais vá mostrando o seu olhar sobre pessoas, pormenores, o por do sol, a lua, uma sombra ou uma simples pedra da calçada. Cada foto tem vida e uma história presente. E o Paulo é um contador de histórias, através da fotografia.