“Os animais entraram na minha vida por acaso. Nunca comprei nenhum. Como nunca comprei nenhum amigo.” Uma declaração simples e direta como António Santana-Maia Leonardo sempre habituou aqueles que com ele convivem.
Mas se o nome Santana-Maia Leonardo está ligado às Leis, por ser advogado, em Ponte de Sor, também tem ligações à política porque foi candidato a presidente da Câmara de Ponte de Sor e de Abrantes. E, por outro lado, há a sua incursão literária pela poesia.
Mas voltemos aos animais e ao livro que foi apresentado este mês de outubro na Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes. O que é que motivou um homem a escrever sobre os “seus” animais, quando até aos 40 anos não teve nenhum animal de companhia?
A primeira explicação vem da família que nunca “deixou” que tivesse um animal de companhia. Depois, como contou na sessão, aos 40 anos uma incidência de um cachorro com o seu filho mudou “radicalmente” a sua vida. Conta Santana-Maia que o filho foi mordido por um cão e, na altura, o veterinário aconselho a que o cão ficasse dois ou três dias preso, lá em casa, até o jovem fazer os testes e despiste sobre a raiva. Passado esse tempo, quando o cão teve “ordem” para sair “lá de casa” não quis. Pudera “tinha casa e comida” e nunca se foi embora, recorda o autor do livro “Crónica dos Bons Amigos”. E foi aí que começou uma ligação que nunca mais parou. “E comecei a tratar do cão com quem falava.”
“Cheguei a ter 13 cães”, afirma Santana-Maia, ao mesmo tempo que diz que “. Uma pessoa com quem ele, Santana-Maia, fala.
Esta analogia foi feita, depois de uma explicação, de um político que já não o é, nos partidos. Terminou as suas ligações aos partidos, mas afirma que continua com as mesmas ideias e convicções quando estava “no ativo”.
Ora, o interior está cada vez mais desertificado. Todos sabem isso. E 60% da população “para cá” da A1 (Autoestrada 1) são reformados. E avançou nesta sua explicação: “se tirarem os ministérios e universidades de Lisboa alivia a pressão e ajuda às questões do interior, se vierem para cá.”
Mas diz não ter grandes esperanças, pois “já tentaram mudar o Infarmed, para o Porto, ou o Tribunal Constitucional, para Coimbra, e não conseguiram.”
E qual a ligação? As pessoas deixam “ir” os seus filhos, ficam sozinhos e têm nos animais as suas companhias.
“Nas zonas desertificadas são o cão ou o gato que substituem filhos e netos, que fazem uma videochamada no Natal.”
Voltando aos amigos do autor, depois do primeiro vieram mais e nenhum comprado, faz questão de sublinhar. Cada um com a sua história, cada um com uma personalidade diferente.
E para além dos cães, Santana-Maia Leonardo, conta também como “adotou” uma gata, que o surpreendeu. “A minha filha apanhou-a pequenina. Cabia dentro da minha mão. Estava na rua cheia de fome. E a gata foi ficando. Passou a ser a minha companheira do escritório”, diz o advogado ao mesmo tempo que acrescenta que ela estava sempre por lá quando passava noites a fio a estudar os processos. “E quando morreu, doeu.”
“A devoção do cão por nós é o amor incondicional. Os cães gostam sempre de nós. Os cães são os verdadeiros cristãos. Dão sempre a outra face, quando lhes batemos”, concluiu o autor.
Santana-Maia Leonardo diz que este é o último livro da sua vida. O editor, Joaquim Emídio, espera que não seja. Mas, Santana-Maia diz deixar com este “Crónica dos Bons Amigos” um legado aos seus netos.
Santana-Maia Leonardo, autor
Joaquim Emídio, editor da Rosmaninho e proprietário do jornal “Mirante” fez questão de vir a mais uma apresentação de um dos seus autores. Antes de falar dos “Amigos” de Santana-Maia Leonardo lembrou duas histórias com livros em Abrantes. A primeira com o mítico José Diniz, da Biblioteca Itinerante Calouste Gulbenkian. Lembra que tinha 12 anos e trabalhava numa taber e foi pedir um livro de filosofia, fosse lá o que fosse. E o bibliotecário anuiu ao pedido e escolheu-lhe um livro.
A outra história tem a ver com um autor, que vive em Abrantes, e a quem editou uma das suas obras.
Já quando à “Crónica dos Bons Amigos” destacou que é a 12.ª vez que apresenta este livro. “O livro é bonito. É bem escrito. E o autor mete a sua vida lá dentro, o que não é muito habitual”, referiu o editor. E acrescentou que “pode não atingir um grade público, mas nós que somos curiosos temos neste, um daqueles livros que nos faz pensar este é o livro que queremos ler.”
Vítor Grácio, veterinário municipal e responsável pelo canil-gatil intermunicipal, foi convidado a apresentar a obra. Começa por dizer que não tem nada a ver com as letras, mas que o nome do livro chamou a sua atenção.
E depois atira: “mas quando escreve ‘os meus cães e gatos tem pessoas lá dentro’, baralhou-me. Isso levou-me a pensar sobre a sociedade, sobre os pais que ficam mais sozinhos. E deixam buracos que podem ser preenchidos... pelos animais.”
Vítor Grácio destaca ainda que conhece muitas pessoas que têm como companhia um animal e que não têm mais do que uma lambidela ou um ‘romrom’.
E liga o comportamento dos animais ás pessoas. “Há uma coisa que me toca. O senhor [autor] com todas estas ‘pessoas’ arranjou uma família grande. E não tem preço. Pelo que li, não tem preço.”
Vítor Grácio lembrou que trabalha num centro que acolhe animais: “Temos 119 cães e 23 gatos. Tenho lá 142 animais com pessoas dentro delas.Só quem adota é que é uma verdadeira gratidão.Livro mostra um homem grande.”