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Cultura

OPINIÃO: «A Medicina Energética e a sua aceitação», por Luís Barbosa

16/08/2021 às 12:00
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SALPICOS DE CULTURA…

 “A Medicina Energética e a sua aceitação”

Enquanto adolescente tive a oportunidade de praticar desporto. Fi-lo com empenho e determinação e tenho da prática desportiva boas e muito gratas recordações. Por isso sou fã das muitas formas como o entretenimento desportivo me entra pela casa, quer me chegue via televisiva quer pela rádio.

Por ter sido sujeito a práticas desportivas onde a ética e a moral eram dois horizontes maiores, custa-me assistir ao nascer de atitudes que no momento vêm desvirtuando esses desígnios. Mas, em contraponto valorizo outras formas de estar que cada vez mais vejo recorrentes e quejá no meu tempo de atleta eram provas de grande respeito tanto por vencidos como por vencedores.

O abraço no final de uma competição, quer se ganhasse ou se perdesse, o festejo em grupo por um companheiro de equipa ter conquistado lugar de destaque, ou ter metido um golo, e os agradecimentos ao público, eram, como vejo que continuam a ser, significativas formas de ancoraros procedimentos de camaradagem e solidariedade.

Contudo, mais agora que outrora, reparo que tanto individualmente, como no que toca ao desporto por equipas, tornou-se muito normal utilizar atitudes que apelando a mais do que à palavra amiga, procuram garantir que do corpo de cada atleta emane uma força que se traduza em mais valia competitiva. Se bem repararmos, é normal que no início de uma qualquer intervenção se cumprimente aquele que vai atuar, e no caso das equipas, torna-se recorrente que, em círculo, se abracem tanto os que entram em cena, como os que ficando no banco de suplentes, à espera que possa haver possibilidade de intervir.

Os comentadores que, entretanto, acompanham as provas, e têm a responsabilidade de dar ao público a noção do que se está a passar, deixam não raro expressa a ideia que o momento é de conseguir fazer aparecer a energia impulsionadora capaz de conduzir ao êxito pretendido, e também não raro, no final das atividades, quem é chamado a dizer de sua justiça porque razão ganhou o perdeu, acabe também por referir que, aqui ou ali, o que faltou, ou houve, foi a energia indispensável.

Com o que deixo escrito quero então valorizar o facto de a noção de apelo energéticose ter transformado numa manifestação corrente do homem moderno. Não que outrora também já não fosse preocupação da espécie. Mas lembro-me bem que ao tempo em que andava pelas estradas do desporto, não era assim tão corrente que se treinasse ou se apelasse tanto às capacidades energéticas que podem emergir do corpo humano para delas fazer depender os sucessos, ou mesmo para justificar os insucessos. A força e destreza muscular eram mais valorizadas, mesmo quando numa das paredes do ginásio se tinha inscrita, a letras bem gordas, a expressão “mente sã em corpo são”.

Lembro-me bem das voltas e reviravoltas que em termos académicos tive de dar para justificar defender que o toque no corpo do praticante que acaba de se exibir, junto com a palavra amiga, era um lenitivo essencial para que a autoestima se mantivesse em crescendo, e sei como a chamada Medicina Energética teve tanta dificuldade em se afirmar. Por isso foi com satisfação que acompanhei alguns dos estudos feitos por Donna Eden e fiquei agradado quando em 1998 esta estudiosa publicou, juntamente com o seu marido David Feinstein, o livro também titulado Medicina Energética.

Pelo que deixo dito certamente se aceita que igualmente tenha ficado contente por ter constatado que a editora Nascente acabasse de publicar em Portugal a referida obra.

A obra é muito interessante, e os autores parecem bem conscientes do interesse em a terem dado à estampa. É que, logo na introdução, justificam o seu propósito deixando dito o que passo a citar: “De facto, à medida que os custos associados aos cuidados de saúde disparam em flecha e os perigos, potencialmente fatais, dos efeitos secundários associados aos tratamentos convencionais não param de subir vertiginosamente, a nossa cultura está desesperada por uma medicina popular que seja eficaz e confiável, e a medicina energética está, rapidamente, a preencher essa necessidade”.

Leia-se então este livro, mas tenha-se o cuidado de entender que os autores utilizam aqui a designação de medicina popular não como uma ação médica desprotegida de avaliações, mas como algo que por ser mais acessível, pode não só ser fonte mais disseminada de ajuda, mas também algo que contribua parasubverter a lógica de uma ação médica orientada sobretudo para o negócio.

Despeço-me com amizade,

Luís Barbosa*

*Investigador em psicologia e ciências da educação
SALPICOS DE CULTURA, uma parceria com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (AIEMP)