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Abrantes

Obras no açude finalizadas. Mini-hídrica continua a ser uma opção (C/ÁUDIO)

14/03/2022 às 12:30
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Por estes dias, que andou por Abrantes e pela Feira de S. Matias, pode volta a ver o Tejo com o seu espelho de água a refletir as cores do céu ou das margens. É que o açude insuflável de Abrantes já está a funcionar em pleno, depois de uma intervenção que começou ainda em 2021 e que pretendeu fazer reparação de um rombo numa das comportas.

Esta intervenção foi complexa porque houve a necessidade de fazer primeiro uma ensecadeira, isolar a comporta em causa com areia, para permitir a execução dos trabalhos necessários.

Quanto à reparação, de acordo com a autarquia, foram feitas duas intervenções numa única operação que foi executada pela mesma empresa, a alemã (Floecksmühle Energietechnik GmbH), que já faz as manutenções regulares desta infraestrutura.

Por um lado foi feita a reparação em relação aos parafusos que apresentavam alguns problemas numa das comportas insufláveis. Mas desta vez não houve, segundo os responsáveis autárquicos, atos de vandalismo como já aconteceu anteriormente e que levou à necessidade de outras intervenções robustas. Neste caso a autarquia aproveitou a intervenção no rasgão para fazer também a manutenção geral daquela comporta.

A operação de reparação foi orçamentada em 251 mil euros a que se acrescentaram 150 mil para a preparação da ensecadeira.

Mas a obra está feita e o açude agora está insuflado. Manuel Jorge Valamatos confirmou que os trabalhos estão concluídos e que agora é preciso dar vida e a dinâmica necessária a este espelho de água para que “ele tenha projeção e a função que deve ter na nossa comunidade.”

De acordo com o autarca, o rio tem um comportamento completamente diferente com o açude insuflado. “Foi um grande investimento nas margens que só faz sentido com este espelho de água”, indicou ainda o presidente da Câmara de Abrantes que confirmou algumas intervenções muito cirúrgicas noutros pontos da estrutura.

 

Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes

O açude está a funcionar e cria uma represa de água que poderia ser aproveitada para a agricultura. Essa é, pelo menos, a ideia do presidente da Associação de Agricultores, Luís Damas, que ao Jornal de Abrantes explicou essa ideia de aproveitamento: “Quando pensei nisso, e vou ter de aprofundar com a Câmara Municipal, foi porque temos aqui uma grande massa de água. Não tenho nenhum estudo, é uma mera opinião. Mas temos os três insufláveis no açude e um deles, na margem sul, é mais pequenino. Podia, quando faltasse a água, haver uma libertação de água e com aviso direto aos agricultores das horas. Não sei se é possível, vou ter de falar com a Câmara, com os técnicos e os políticos da Câmara para ver se isso tem alguma viabilidade para resolver um problema local.”

Questionado sobre esta ideia Manuel Jorge Valamatos disse que há possibilidade de haver uma conversa com a Associação de Agricultores e que faz todo o sentido. “Num momento em que se reforçou esta ideia de escassez de água, esta situação de seca leva-nos a repensar um conjunto de mecanismos. E julgo que temos de saber aproveitar tudo o que temos à nossa disposição para minimizar os efeitos da seca e as questões que se relacionam com a água.”

O autarca reafirmou que o Município está disponível e que “seremos nós próprios a incentivar essas reuniões e a procurar mecanismos que possam maximizar estes recursos. Temos aqui uma bacia extraordinária que deve ser aproveitada e valorizada.”

 

Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes

Há uns anos falou-se de um eventual interesse de uma elétrica em aproveitar o açude para ali construir uma mini-hídrica para produção de eletricidade. Manuel Jorge Valamatos confirmou que esse processo continua e com as questões recentes, relacionados com a energia, e com os preços, “cada vez mais faz sentido aproveitar o recurso e instalar a mini-hídrica. É um processo que estamos a acompanhar com o Ministério do Ambiente e procuraremos as melhores estratégias para conseguir aproveitar os nossos recursos e as nossas condições. Estamos e vamos continuar a reunir com o Ministério do Ambiente para ali (açude insuflável) instalar uma mini-hídrica.”

Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes

Uma das questões que mais tem levantado críticas por parte de pescadores e ambientalistas tem a ver com a escada passa-peixe que não será a mais correta para permitir a passagem das espécies piscícolas para montante, pelo menos até à Barragem de Belver.

A Câmara Municipal já tem a primeira parte de um estudo que “observava e analisava o comportamento das espécies piscícolas na transição da escada passa-peixe. Há uma primeira parte desse estudo que não ficou concluído por causa do açude ter sido danificado”, explicou o autarca. Este estudo, desenvolvido pelo Centro de Ciências do Mar e do Ambiente / Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa, vai ser concluído em breve indicou o autarca, esperando que o mesmo possa “apontar medidas para resolver ou minimizar aquilo que são os défices e as dificuldades existentes na escada passa-peixe.”

Manuel Jorge Valamatos espera ter propostas concretas que permitam candidaturas a fundos comunitários para o financiamento dessas eventuais intervenções.

 

Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes

A reformulação da escada passa-peixe poderia vir a concretizar-se com a instalação da mini-hídrica. O presidente da Câmara de Abrantes diz que houve aqui atrasos nalgumas opções que têm a ver com esta possibilidade e essas alterações, segundo o autarca, “têm de acoplar outra estratégia, como existem noutros pontos do país, para criar infraestruturas para valorizar o ambiente e a relação que os peixes têm com o rio, a montante e jusante (do açude).”

Há, ainda de acordo com o presidente da Câmara de Abrantes, a possibilidade de poder vir a instalar junto à escada passa-peixe, na margem sul do açude, um centro de interpretação. E há um exemplo no país, em Coimbra, onde isso acontece no Mondego. “Gostaríamos de poder ter aqui esse apontamento. Serviria para monitorizar os peixes e, ao mesmo tempo, como espaço didático para a observação das espécies.”

Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes

O açude insuflável em Abrantes tem, sensivelmente, 240 metros e foi construído em 2004 com um investimento de de 10 milhões de euros. O objetivo foi criar um local para fins de desporto e lazer.

O açude consiste numa construção de engenharia hidráulica bastante avançada, com tecnologia de ponta proveniente do Japão da empresa japonesa Bridgestone. Ou seja as comportas têm uma borracha preparada para suportar as elevadas pressões a que o dique está sujeito, particularmente durante o inverno, tendo em conta os ecossistemas existentes.

É o elemento estruturante do Aquapolis permitindo a existência de um espelho de água, considerado o maior espelho de água urbano de Portugal, e que depois de estar a funcionar foi chamado pelos autarcas “Mar de Abrantes”.