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Mestre José Pimenta e Heitor Figueiredo em exposição no MIAA (C/ÁUDIO E FOTOS)

11/10/2022 às 11:37
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As duas salas de exposições temporárias do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte (MIAA) de Abrantes inauguraram no sábado passado as exposições “Rio”, do mestre José Pimenta, e “As Minhas Arqueologias”, de Heitor Figueiredo. São exposições de pintura e escultura que vão ficar disponíveis para visita até 26 de fevereiro do próximo ano.

O mestre José Pimenta, nascido no Souto em 1931, tem o seu espaço de trabalho em Rio de Moinhos, no qual trabalha todos os dias. À Antena Livre revelou que todos os dias está a criar, porque tem disponibilidade para pintar ou esculpir.

A veia artística de José Pimenta terá começado na escultura, entrando depois no desenho e, de uma forma natural, deu os passos para a pintura. A sua pintura, com pigmentos diluídos em cera acrílica são aplicados em madeira, reutilizando materiais. Portas, portadas de janelas, móveis e por aí fora. Não sendo uma pessoa praticante ou católica no sentido convencional do termo, escrevem os curadores, “os motivos e temas representados na sua obra vão-se alargando mais e mais.”

As obras que constituem esta exposição foram produzidas entre 1993 e 2022, com uma maior incidência entre 2014-2022.

Sobre a exposição o mestre disse à Antena Livre que “podem ver tudo e tirar conclusões. Porque fico surpreso de as pessoas gostarem destes trabalhos porque, desde há 30 anos, este é o meu trabalho diário.”

Já com a barreira dos 90 anos ultrapassada José Pimenta revela que há 30 anos este é o seu trabalho de todos os dias: pintar, desenhar ou esculpir. “Todos, todos os dias enquanto tiver saúde, enquanto puder”, é a promessa do artista residente em Rio de Moinhos.

Questionado sobre o estilo em que se enquadra responde com humor: “em obras de todo o talho.” Mas há quem catalogue obras no estilo abstrato ou naif. Embora não ligue muito a rótulos diz que é o que vem à cabeça. “Agora tenho lá uma coisa que comecei a pintar e que se fosse lá ver dizia que eu era maluco. Pus uma base na madeira e depois truca, truca, truca, truca de pinceladas brancas. Depois andei dois dias a olhar para aquilo e agora já defini. Cada cabeça sua sentença, é o título. Porque unindo umas coisas às outras achei piada. E é assim que nascem as minhas obras.”

Uma das modas atuais, diz o mestre, é o beijo [e aponta para um dos quadros expostos]. “Deu-me na mona de fazer uma coisa daquelas e não quer ver, há uns três, ou quatro, meses, todas as semanas vendo uma coisa daquelas, quando não são duas”, explica José Pimenta. “O pensador [volta a apontar para outra escultura] é outra coisa que se vende muito” revela o mestre que garante não fazer “trabalhos por encomenda”.

Por encomenda só mesmo uma imagem de um santo, por exemplo. “Podem trazer-me uma fotografia e eu faço. Digo sempre que não fica igual, fica à minha maneira. Mas fica sempre lá qualquer coisa.”

Mestre José Pimenta

De acordo com os curadores, Sara e André, as pinturas e desenhos de José Pimenta “podem representar atividades antigas que ele próprio realizava em criança, como o chamar a abelha-mestra para o cortiço ou o segurar o cavalo na eira enquanto este pisa a palha.”

Já sobre as esculturas, os curadores escrevem, que as mesmas podem inspirar-se em obras já existentes, como o “Zé-Povinho” de Rafael Bordalo Pinheiro ou “O Beijo” de Constantin Brancusi.

Já sobre os materiais que o mestre usa aponta-se a pedra, da zona de Fátima, ou as madeiras de várias espécies.

Antes desta sua vida artística, José Pimenta trabalhou em Lisboa, na área da construção civil, com o primo J. Pimenta, criou a fábrica de Mosaicos Pimenta e até chegou a ser candidato a presidente da Junta de Freguesia de Alferrarede.

O artista, natural de Braga, para além da formação feita, quase sempre no Porto, andou por Espanha e, em 2005, recebeu o Prémio Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro. Foi um dos fundadores do Núcleo de Artes Visuais de Aljustrel. Atualmente é professor de artes e reside na aldeia de Cabeça Gorda, concelho de Beja.

Esta exposição aponta, às arqueologias do artista. E as arqueologias de Heitor Figueiredo são pequenos fragmentos de qualquer peça que pode encontrar na rua e que leva para casa. Depois, a partir do pedaço cria uma escultura que pode ser inspirada nesse objeto que “alguém deitou para o chão.”

Muitas vezes são coisas muito bonitas, restos de madeira, de plásticos, de metais que as pessoas deitam fora.

Heitor Figueiredo diz que há duas formas de idealizar as suas esculturas. Uma é olhar para esse fragmento na rua e imaginar uma peça, a outra é recolher o fragmento e guardar em casa. E depois, um dia, olha para esse pedaço de qualquer coisa e cria a obra de arte.

Uma particularidade das obras do escultor tem a ver com as cores, as quais usa e abusa, mas sem tons garridos ou fortes. “São tons muito suaves, mas gosto de contrastes. Normalmente há uma mais intensa, mas as outras são sempre mais suaves”, explicou o artista que acrescentou que todas são feitas em lastras muito finas, pelo que “as peças são todas muito leves.”

Heitor Figueiredo

Já o curador, Hugo Dinis, revela que o artista “socorrendo-se de diferentes formas geométricas” e acrescenta que nessas formas “reflete sobre um modo de ver e de viver num mundo muito próprio.”

Nestas obras parece que a utilidade e a função desses objetos utilizados “é questionada pelo humor e ironia que carregam consigo.”

O MIAA integra a Rede de Museus de Abrantes e tem patente as exposições: Coleção Municipal, Coleção Estrada, Coleção Maria Lucília Moita, Coleção Figueiredo Ribeiro com “Dois Cafés” de Luís Paulo Lopes e “O que fazer”, de Martim Brion.

Agora juntam-se as exposições “Rio”, do Mestre José Pimenta, e “As Minhas Arqueologias”, de Heitor Figueiredo.

O MIAA pode ser visitado de terça-feira a domingo das 10:00 - 12:30 e 14:00 - 17:30. Encerra à segunda-feira e feriados (exceto no dia 14 de junho, feriado Municipal de Abrantes). O MIAA pode receber visitas orientadas e serviços educativos com marcação (museusdeabrantes@cm-abrantes.pt).