Pela primeira vez a expor na sua terra natal, Matilde Marçal apresenta em Abrantes um conjunto de obras que realizou nos últimos 15 anos “principalmente constituída por vários conjuntos formados por diversos pequenos e médios formatos, interessantes variações sobre o quadro múltiplo numa recriação totalmente contemporânea do modelo “retabular”, abrangendo, por seu turno, três distintos universos temáticos que remetem para memórias de lugares, de atmosferas e de coisas, incluindo as referências a esses motivos na própria história da pintura”, descreve o curador Fernando António Baptista Pereira.
Natural de Abrantes, Matilde Marçal foi professora de pintura e gravura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (hoje Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa) e, durante 50 anos, partilhou o atelier e também o ensino da pintura e gravura com Gil Teixeira Lopes, recentemente falecido, com quem expôs regularmente.
Matilde Marçal demorou anos a expor em Abrantes porque se “zangou” ainda os anos 70/80. A artista explicou à Antena Livre que nessa altura o presidente da Junta do Rossio ao Sul do Tejo a convidou para uma exposição em Abrantes. Só que, a pintora em início de carreira, não teve possibilidade sequer de expor em Abrantes porque, à altura, os autarcas não quiseram. Disse a artista que o presidente da Junta do Rossio lhe ligou a dizer que da Câmara não haveria possibilidade, mas que ele arranjaria um pequeno espaço para a exposição. E sim, “foi feita numa garagem com os meus quadros expostos em cima de cadeiras. Então jurei que não viria expor a Abrantes.”
Mas a vida dá voltas e, anos mais tarde, foi sendo contactada para expor em Abrantes, o que nunca aconteceu. Nunca até agora.
Matilde Marçal referiu que não conhecia o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte (MIAA), mas que aceitou o desafio, ainda para mais tendo como curador Fernando António Batista Pereira e na sala ao lado os trabalhos do Mestre Gil Teixeira Lopes, com quem expôs noutros locais.
A artista referiu que a sua exposição no MIAA tem duas salas distintas, como referiu o curador, as coisas e os espaços.
E há uma nota da artista, para que o visitante possa começar a olhar para os seus trabalhos do meio da sala, antes de percorrer o mesmo, peça a peça.
Matilde Marçal, entrevistada pelo jornalista Jerónimo Belo Jorge
Já na exposição com trabalhos do Mestre Gil Teixeira Lopes, patente numa outra sala de exposições temporárias do MIAA, o visitante pode apreciar, segundo referiu o curador na inauguração, obras da última fase do artista, “aquela que ainda não foi mostrada extensivamente ao público”, tendo o curador escolhido um conjunto de peças “onde vemos figuração e abstração”.
Além das obras de pintura de grande formato, podem também ser apreciadas no MIAA esculturas de Gil Teixeira Lopes “que guiam até entrar na exposição de Matilde Marçal”.
Esta é a primeira exposição da obra de Gil Teixeira Lopes após o seu falecimento, em finais de 2022, aos 86 anos. Foi professor catedrático de pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e afirmou-se como artista na década de 1960, tendo-lhe sido atribuídos, desde então, vários prémios e distinções nacionais e internacionais
Catarina Castel-Branco foi aluna de Matilde Marçal e lembrou aos presentes do trabalho da professora e deixou a indicação que ela própria vai estar a expor no MIAA em 2024.
Catarina Castel-Branco
Ainda no decurso da cerimónia de inauguração das exposições, o curador Fernando António Batista Pereira fez questão de referir o trabalho fundamental da equipa do Museu do Ano 2023. Uma referência secundada pelo presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, e pela própria artista, Matilde Marçal. É que uma exposição não é apenas espalhar um conjunto de obras numa parede. E todos os pormenores contam, como explicou o curador, até porque os trabalhos são, normalmente, escolhidos para os espaços que os vão receber.
As exposições de Matilde Marçal e Gil Teixeira Lopes foram inauguradas a 28 de outubro, e na ocasião, o Presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, começou por enaltecer “a função social do nosso Museu Ibérico de Arqueologia e Arte enquanto peça chave da nossa política cultural municipal, salientando ainda o grande investimento municipal neste museu distinguido com o prémio Nuno Teotónio Pereira, de reabilitação urbana, do IHRU e como Museu do Ano 2023”.
Manuel Jorge Valamatos agradeceu à abrantina Matilde Marçal por expor pela primeira vez em Abrantes e destacou os méritos do Mestre Gil Teixeira Lopes” que estará para sempre ligado a Abrantes através dos vitrais do monumento no Outeiro de São Pedro”.
As duas exposições temporárias podem ser visitadas no MIAA até 30 de março de 2024. O MIAA está aberto de terça a domingo das 10h às 12h30 e das 14h às 17h30. Encerra à segunda-feira e feriados (exceto 14 de junho) e tem entradas gratuitas aos domingos.