Em junho de 2019 o Grupo de Teatro Palha de Abrantes teve de sair do Edifício Carneiro, que iria entrar em obras para outro fim, e instalou-se na antiga escola primária das Hortas, em Alferrarede. Mas, logo na altura, soube-se que poderia não ser o destino final. E confirmou-se. A necessidade do edifício, propriedade do Município, para remodelar e transformar numa Unidade de Saúde Familiar levou o grupo de teatro a instalar-se, supões-se que a título definitivo ou de mais longa duração na antiga Escola Primária dos Quinchosos.
Em três meses, o Grupo de Teatro Palha de Abrantes (GTPA) soube da decisão e, em acordo com o Município, foram ver dois locais para se poderem instalar. Um não agradou, mas a antiga escola dos Quinchosos, a “universidade dos Quinchosos” como os antigos alunos carinhosamente designam a sua escola primária, encheu as medidas.
Conceição Fonseca, presidente do GTPA, aceitou ficar com uma sala no primeiro andar e com a cozinha e refeitório, num edifício que fica ao lado da escola. E neste complexo juntam-se ao Orfeão de Abrantes, que faz de outros espaços da antiga escola a sua sede e local de ensaios para os seus grupos, coral e musicais.
E foi assim, em modo quase familiar, mas muito animado, que a direção do GTPA organizou um pequeno momento formal para assinalar a inauguração da sua vida em novo espaço.
Se na cozinha e refeitório foi feita a adaptação para a área de direção e administrativa, e uma sala de ensaios, na sala do primeiro piso do edifício principal ao longo dos últimos meses, os elementos foram ensaiando um trabalho de grupo para conseguirem ter o seu pequeno auditório concluído para os espetáculos, cuja estreia aconteceu neste fim de semana (19 e 20 de outubro) com a peça “Nó na Garganta”, que esgotou nas duas sessões. “É um pequeno auditório, mais pequeno, com 54 lugares, que nos permite fazer o nosso trabalho”, indicou Conceição Fonseca que complementou a dizer que será sempre um auditório para “peças mais pesadas ou mais intimistas.” Isto para quando o cineteatro S. Pedro estiver pronto a utilizar ou para quando abrir portas o Museu de Arte Contemporânea (MAC), onde existirá um auditório, que pode vir a ser utilizado.
Seja como for, agora com o futuro próximo definido, Conceição Fonseca revelou que faltam ajustar pormenores para que o projeto “casa” esteja totalmente arrumado e para que os encenadores e atores possam avançar com outros projetos.
Basicamente, a inauguração permitiu agradecer ao Município de Abrantes e destacar que o trabalho que é feito, amador, é certo, mas com muito empenhamento é para os cidadãos. Quer dizer, para os que vão ao teatro. Para os que gostam de teatro.
O presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, esteve presente e destacou, naturalmente, a necessidade da antiga escola das Hortas para a USF que vai abranger todo o norte do concelho. Vai criar condições para, espera-se, “dar” médicos de família aos utentes de parte de Abrantes e Alferrarede, Mouriscas, Carvalhal, Fontes, Aldeia do Mato e Souto e ainda Rio de Moinhos.
Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes
Depois vincou que este edifício tinha ficado devoluto, depois da abertura do Centro Escolar Maria de Lurdes Pintassilgo, e agora alberga duas associações ligadas à cultura.
Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes
Conceição Fonseca está agradada com esta solução. É que, dividindo a “casa” com uma associação de música, podem vir a nascer parcerias interessantes. Trabalhos em conjunto, quem sabe. Embora ainda não tenha indicado nenhum projeto em particular, percebe-se que pode haver mesmo trabalhos a “misturar” as duas artes.
Quando ao futuro, a presidente do GTPA indicou o outubro e novembro com a realização do Encontro de Teatro de Abrantes, que começou neste fim de semana e que vai ainda proporcionar cinco espetáculos, sendo um deles, no Salão Paroquial de Martinchel.
Por outro lado, enquanto uns atores estão em cena, outros elementos do grupo preparam novas produções.
Conceição Fonseca disse que quem quiser pode experimentar. Basta que apareça na sede do grupo, que contacte a direção ou outros elementos. Mas fez questão de salientar que o teatro não vive só de encenadores ou atores. Há muitas outras funções, desde a maquilhagem, som, adereços, iluminação, cenografia, entre outros. Há por isso, sempre, muita ajuda a dar às produções.
Conceição Fonseca, presidente GTPA
Helena Bandos, foi uma das fundadoras do grupo de teatro, ainda em contexto escolar, através da Escola Secundária Solano de Abreu. Depois, com a criação da associação continuou a promover esta arte.
Nesta quinta-feira, 17 de outubro, estava feliz. Tal como estava a 9 de junho de 2019. Haver uma casa para o teatro é sinal que há condições para que este não desapareça. Em Alferrarede, na escola das Hortas, Helena Bandos manifestou na altura, um desejo: “levar as gentes de Alferrarede ao teatro.” Misturou-se a pandemia, mas o grupo não desanimou, continuou o trabalho e o objetivo foi cumprido. “Conseguimos levar as pessoas de Alferrarede ao teatro”, disse com orgulho. Mas desde sempre com a ideia de que o GTPA deve estar “no alto da cidade”. Agora, quando deixou a direção, sorriu com a abertura deste espaço.
Helena Bandos continua a encenar. É um gosto de muitos e muitos anos. E confidenciou à Antena Livre que descobriu, recentemente, um texto de José-Alberto Marques. “É um original que ele me deu. É complexo, porque tem muitas crianças. Mas vamos levá-lo avante com o Centro Escolar Maria de Lourdes Pintassilgo”, afirmou com o orgulho de quem tem no teatro, uma atividade prazerosa.
Helena Bandos, fundadora do GTPA
A atividade, o Grupo de Teatro Palha de Abrantes, teve início sob a orientação das professoras Maria Helena Bandos e Maria Rosa Garcia.
Com uma atividade quase ininterrupta, o grupo levou à cena peças de dramaturgos tão variados como: Miguel Cervantes, Bernardo Santareno, Solano de Abreu, Maria Clara Machado, Federico Garcia Lorca, Sophia de Mello Breyner Andresen, José Manuel Heleno, Tcheckhov, Sérgio Godinho, Norberto Ávila, Ana Jael, Roberto Vidal Bolaño, Hilse Fisher, Fausto Paravidino, entre outros. Tem-se pautado por levar o teatro a todos os palcos e todas as gentes.
Actualmente, com 26 anos de existência, o GTPA tem desde 2007 organizado a Mostra de Teatro de Abrantes, que conta com a participação de grupos de teatro de todo o país. Este ano é 15.ª edição.