Constância Gentes do concelho em Retratos da Minha Terra
Uma exposição de gentes, seus olhares, seus afazeres, suas alegrias e onde o sagrado e o profano convivem lado a lado.
“Este é o olhar de uma pessoa de fora que olha para vocês de uma certa maneira. E isso é bom. Sermos olhados por outros olhares. Ajuda-nos a afastar os hábitos que temos”.
Estas palavras foram proferidas pelo fotógrafo Augusto Brázio que, durante o passado mês de setembro, “se perdeu” pelo concelho de Constância, começou por confessar ter ficado “muito contente” quando foi desafiado para o «Retratos da Minha Terra – Geografias» pois “uma das disciplinas que sempre me foi cara é o retrato”. O artista faz outro tipo de fotografias “mas o retrato é qualquer coisa que me atrai”. E explicou que “é uma forma de estar com as pessoas, de conhecer o território e os usos e costumes”.
A explicação foi dada esta sexta-feira, 4 de fevereiro, por ocasião da inauguração do projeto Retratos da Minha Terra – Geografias. A exposição de fotografia está patente na Sala Polivalente do Cineteatro Municipal de Constância até ao próximo dia 18 e abarca um conjunto de 30 fotografias, com 34 rostos de “gentes das nossas terras”.
O concelho de Constância “era praticamente desconhecido” para Augusto Brázio que se “limitava a passar na autoestrada e nunca tinha tido a oportunidade de estar com as pessoas”.
Na inauguração da exposição, Sérgio Oliveira, presidente da Câmara Municipal de Constância, referiu que esta é “uma exposição de gente do concelho e não só mas que retrata o quotidiano da nossa vida nas três freguesias . O concelho de Constância é pequenino mas há que dizer que as três freguesias são bastante diferentes umas das outras, chegando a haver diferenças mesmo dentro de uma freguesia com hábitos e costumes distintos. E isto tem que ser encarado como algo positivo pois a diferença só enriquece o nosso concelho enquanto território”.
Olhando para os retratos expostos na sala, “eu diria que a fotografia que melhor retrata o concelho e que é transversal a todas as três freguesias do concelho é a fotografia da taberna de Montalvo, a taberna do sr. Carlos, porque o concelho tinha muitas tabernas como esta e era ali que era o local de encontro das pessoas, o local de convívio, o local de discussões e brigas... é, portanto, o mais genuíno da nossa ruralidade”, afirmou Sérgio Oliveira.
Para concretizar este trabalho o fotógrafo não teve “nenhum método”. As pessoas fotografadas “foram as que fui encontrando nas minhas deambulações”.
Num trabalho que exige contacto próximo com as pessoas, há sempre uma ou outra história que fica para contar. “Foram momentos incríveis”, disse Augusto Brázio.
“O senhor presidente falou na taberna e eu devo confessar que, ao fim do dia, já dava por mim a ir lá beber uma cerveja e falar com as pessoas. Uma pessoa que não é de cá, chega aqui e acaba por criar rotinas. Como está fora do seu espaço, vai-se chegando a sítios que lhe dizer qualquer coisa”, contou Augusto Brázio.
Também a fotografia de João Lopes, com o Pantufa ao colo, tinha uma história por trás. Augusto e João cruzaram-se na rua, falaram um pouco e o retrato saiu. Só depois é que Augusto Brázio deu conta de que não estava na posse da sua mala com o equipamento fotográfico. Foi andando e lá encontrou novamente João Lopes que já corria as ruas à procura do fotógrafo para lhe devolver os pertences.
No que diz respeito à técnica do retrato, Augusto Brázio explicou que “gosto de fotografar perto mas tendo um pouco de contexto para se perceber onde as pessoas estão. E sempre com o cuidado de retratar as pessoas dignamente”.
A Câmara de Constância ofereceu ainda aos retratados a foto que está em exposição, para recordação do dia em que se cruzaram com Augusto Brázio.
Retratos da Minha Terra – Geografias, vai estar aberta ao público todos os dias, das 14h00 às 17h00. Trata-se de uma galeria de retratos, num registo documental, onde se pretende fazer uma reflexão sobre o indivíduo e o seu quotidiano, as ligações com os sítios que habita, trabalha e se diverte. Através de uma recolha eclética de indivíduos, o autor constrói uma galeria de retratos que levantam questões de pertença, identidade e território.
A exposição Retratos da Minha Terra – Geografias é promovida pelo Município de Constância e pela Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, no âmbito do Caminhos das Pessoas, um projeto cofinanciado pelo Centro 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do FEDER.