Chama-se “LUS 222” e será a primeira aeronave desenvolvida e produzida em Portugal, nomeadamente em Ponte de Sor, cidade alentejana onde floresce um cluster ligado à aeronáutica e aviação.
Este projeto do “LUS 222” começou por ser pensado em Évora, mas a sua construção vai começar, prevê-se em 2025, em Ponte de Sor.
O acordo entre os parceiros da empresa que vai construir a aeronave, de transporte ou carga civil, ou militar, foi assinado esta quarta-feira depois da abertura oficial do Air Summit 2022, que está a acontecer em Ponte de Sor, e com o olhar atento de João Neves, secretário de Estado da Economia.
De acordo com os empresários, este avião que podia ser construído em qualquer lugar do mundo vem responder ao mercado. O projeto, que implica a construção de uma série de edifícios num complexo industrial que tem de ter uma pista para ensaios vai criar 300 postos de trabalho e prevê-se que a primeira unidade possa entrar em certificação em 2025.
Este é um projeto de investimento que custará 100 milhões de euros, recebeu capital estrangeiro, pode criar 300 postos de trabalho direto e 800 indiretos, garantiram os investidores.
Quando estiver a funcionar em pleno, em velocidade cruzeiro a fábrica terá uma produção de 20 a 30 unidades por ano. Esta aeronave é muito procurada em África e na América do Sul pela sua versatilidade, por poder funcionar muito bem em linhas regionais e, acima de tudo, porque não precisa de uma pista muito comprida para operar e, de acordo com os empresários, até pode aterrar em pistas de terra.
A apresentação aconteceu no espaço onde a empresa tem a maqueta da fábrica e do avião, no Portugal Air Summit, e foi feita por Miguel Braga, do Centro de Engenharia e Desenvolvimento (CEiiA). É este centro que, juntamente com o EEA Aircraft, é responsável pelo desenvolvimento, industrialização e comercialização a partir de Portugal e de Ponte de Sor.
O nome escolhido é “LUS, de luz de Portugal”, começou por explicar durante a apresentação sendo que “os três 2 são: dois motores, 2 mil quilómetros de distância e duas toneladas de carga”.
De notar que o CEiiA entra como parceiro de engenharia para o desenvolvimento da aeronave, tendo como curriculum e background o trabalho realizado na aeronave KC-390 (Embraer), onde já investiu mais de 650 mil horas de engenharia.
Miguel Braga deixou claro que o “LUS 222” será uma aeronave que terá todos os componentes nacionais, ou quase: “Na verdade, a única parte que não é portuguesa, são os trens de aterragem e os motores, não há ninguém que o faça em Portugal. Tudo o resto é português.”
Este será o primeiro avião português porque, adiantou, “em Ponte de Sor vamos ter a linha montagem final e é a primeira em Portugal. Temos a Embraer e as OGMA, mas nenhuma monta o avião por completo. É um grande salto para o cluster e o ecossistema aeronáutico português e é um grande resultado para o país”, sublinhou Miguel Braga.
O acordo assinado com a Câmara Municipal de Ponte de Sor, com a presença do secretário de Estado da Economia, João Neves, tem em conta a construção de um hangar para linha de montagem final de aeronaves, onde será igualmente construída a cabina de pintura, o centro de manutenção, o centro de treino e formação, e os edifícios administrativos (sede).
A aeronave regional ligeira, “não pressurizada, de 19 lugares, para dois mil quilos de carga e para dois mil quilos de alcance”, recordou, terá uma “versão civil e outra militar”.
Miguel Braga vincou que a “Força Aérea brasileira tem 60 aviões com esta configuração que o fabricante deixou de produzir. Está aí um espaço de oportunidade”, especificou Miguel Braga.
Na especificação técnica a “LUS 222” tem 16, 5 metros de comprimento, 6,5 metros de altura, 3,7 toneladas de peso quando vazio (suporta até 8,2 toneladas), e atinge uma velocidade de 210 KN (nós), necessitando de 900 metros para levantar voo e 450 para aterrar, podendo fazê-lo em “pistas curtas e não pavimentadas”, frisou.
O “LUS 222” responderá a uma procura por este tipo de aeronave estimada em “mais de cinco mil aviões nos países de destino para substituir as aeronaves em fim de vida nos próximos 15 anos”, avançou. “Este é o racional económico para fazer um projeto destes”, prosseguiu.
Miguel Braga
João Neves, Hugo Hilário, José Rodriguez e Miguel Braga
Em relação aos custos deste avião Miguel Braga não quis adiantar valores, mas sobre o investimento aponta a 100 milhões de euros.
Sobre este investimento, avultado, Miguel Braga, não clarificou o papel decisivo da Cosme, parceiro privado da EEA, uma holding que “reúne capital espanhol, francês e belga”, informou. “Foram eles que decidiram apostar em Portugal.”
Maqueta das instalações onde irá ser produzido o "LUS 222"
Já Hugo Hilário, presidente da Câmara de Ponte de Sor, depois de assinar o memorando de entendimento com a holding que vai construir o “LUS 222” deixou vincada a importância deste investimento: “Tudo o que represente investimento no aeródromo, estamos sempre atentos e a atraí-los para cá.”
O autarca disse ainda que sabendo da pretensão de construção deste avião avançou para um posicionamento que pudesse receber alguma das partes deste projeto. “O que aconteceu é que fomos selecionados (Ponte de Sor) por termos características próprias. Ou seja, não se constrói um avião sem haver uma pista com as condições mínimas para o testar.”
Hugo Hilário revelou ainda que este dia, 12 de outubro, é um marco e um ponto de viragem no Aeródromo. “Ter todas as empresas deste cluster e agora ter aqui uma empresa que vai construir um avião, para nós (Ponte de Sor), é diferenciador é estruturante para o concelho, para o Alentejo e para o país.”
Hugo Hilário
O presidente da Câmara de Ponte de Sor deixou ainda claro que um dos desafios mais importantes de futuro tem a ver com a captação de mão de obra. Alguns destes desafios são difíceis.
Ponte de Sor teve o privilégio de ser contemplado com o impacto direto de três agendas mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Na área da aeronáutica, na produção deste avião e na produção de aviação não tripulada, na área do espaço e na produção de microssatélites. O autarca salienta que este avião vai ter uma criação de 300 postos de trabalho diretos e 800 indiretos, mas para “executar estas três agendas mobilizadoras estamos a falar muito mais do que isso.”
Hugo Hilário está ciente que não é de um dia para o outro que Ponte de Sor ou o Alentejo vai garantir todos estes postos de trabalho, mas sublinhou a aproximação, cada vez maior, com a academia e entidades formativas relacionadas com este cluster. Apesar de tudo diz: “vamos ter aqui umas dores de crescimento que serão evidentes, mas que acabam por ser sempre bons problemas.”
Hugo Hilário
A Câmara de Ponte de Sor (Portalegre) já investiu mais de 40 milhões de euros em infraestruturas no aeródromo municipal, espaço que acolhe 14 empresas, criando mais de 300 postos de trabalho, foi hoje revelado.
O vice-presidente da Câmara de Ponte de Sor e responsável pela gestão do aeródromo, Rogério Alves, explicou que a expansão que está em curso no Centro Empresarial, Aeronáutico e Aeroespacial do Aeródromo Municipal de Ponte de Sor, deverá criar “nos próximos dois anos mais 150 a 200 postos de trabalho”.
A expansão do Centro Empresarial, Aeronáutico e Aeroespacial do Aeródromo Municipal de Ponte de Sor custou aos cofres da autarquia cerca de 12 milhões de euros, sendo o mesmo composto por dois hangares de dois mil metros quadrados, atribuídos a três empresas (Sevenair Maintenence, Avionce e LD Halmets) e um outro de oito mil metros quadrados atribuído à empresa portuguesa Aeromec.