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Médicos de Família

Autarca de Constância revela «grito de revolta» e escreve ao ministro da Saúde (c/áudio)

7/09/2023 às 11:03
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Extensão de Saúde Santa Margarida

O presidente da Câmara Municipal de Constância escreveu ao ministro da Saúde para se queixar sobre a falta de médicos de família no concelho depois de saber que a médica que ia a Santa Margarida vai de férias e já não volta deixando a freguesia num vazio nos cuidados primários de saúde.

A carta, datada de 6 de setembro, começa com Sérgio Oliveira a registar que o país vive um flagelo “sem precedentes” e identifica, desde logo, o problema: “Em tempos modernos é impensável que tenhamos várias extensões de saúde encerradas e outras em funcionamento, mas que para obter uma consulta os utentes tenham que se deslocar de madrugada ou de véspera para a porta da extensão/centro de saúde.”

O autarca de Constância reforça a informação a Manuel Pizarro escrevendo que a população do concelho é envelhecida, com baixas pensões e que, por isso, não tem condições de acesso a serviços privados ou seguros de saúde. E alude depois à população ativa que, tendo salários baixos e prestações elevadas, não tem, igualmente, condições para acesso a sistemas privados de saúde.

Sérgio Oliveira dá conta que “estamos numa escalada de concorrência entre municípios, o que levará num futuro muito próximo que os municípios desafogados financeiramente consigam ter médicos, e os mais pobres não.” Na mesma missiva o autarca lamenta que se esteja a criar, na saúde, “um novo fosso” e a aumentar a desigualdade territorial.

Sérgio Oliveira deixa ainda no ar uma possibilidade, de deixar obras de lado para poder contratar profissionais de saúde. “Se o caminho for este, vamos abdicar de fazer obra física, e canalizamos o dinheiro para pagar um suplemento aos médicos."

O presidente do Município de Constância “confessa” ao ministro da Saúde que, mesmo sendo contra esta política, já ofereceu um suplemento financeiro a uma médica para a convencer a fazer serviço no concelho. “Não sei se irá aceitar”, remata o autarca socialista. E logo a seguir explica porque teve uma ação contrária à sua posição. “Fi-lo porque sofro todos os dias pelas pessoas que represento. Sinto-me revoltado e indignado cada vez que vejo a minha população a ir de madrugada/véspera para a porta do centro de saúde.”

E depois pede ao ministro que clarifique a situação, que se não for este o caminho “que se diga, de forma clara, não é possível aos médicos receberem suplementos pagos pelas Câmaras Municipais.”

Sérgio Oliveira conclui a missiva a dizer que não se conforma com estas situações e pede ao governante para serem encontradas soluções para a “resolução deste flagelo.”

Já em declarações à Antena Livre o presidente da Câmara explicou que teve conhecimento esta semana que a médica que fazia serviço em Santa Margarida entrou em período de férias, mas informou que já não regressava deixando um vazio no serviço dos cuidados de primários de saúde. E é tendo com base esta nova realidade concelhia que o autarca deixa este “grito de revolta” e espera que a tutela venha esclarecer algumas situações. Nomeadamente em relação aos suplementos financeiros dos municípios em relação aos médicos de família. Sérgio Oliveira teme, que a ser possível, possa haver uma espécie de leilão e que os médicos passem a ser “uns saltitões” e passem a andar atrás de quem ofereça mais.

O presidente da Câmara adianta ainda que não tem esperança que a nova organização da saúde, prevista para 1 de janeiro, com a entrada em funcionamento das Unidades Locais de Saúde (ULS), venha trazer uma poção mágica para resolver um problema estrutural do país e que é a falta de médicos de família.

Sérgio Oliveira, presidente CM Constância

 

Recorde-se que face à falta de médicos é recorrente haver informação que a população da freguesia de Santa Margarida que precisa de uma consulta, confirmada pelo presidente da Câmara, vá de madrugada para a porta do Centro de Saúde. Esta pergunta tem sido feita pela vereadora Manuela Arsénio (CDU) não tendo o presidente da Câmara respostas diferentes da que tem dado.

Já o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo continua a não ter médicos para colocação. Aliás, no último concurso o ACES abriu três dezenas de vagas para médico de família no território (11 concelhos), mas teve apenas 3 colocados: dois em Torres Novas e 1 em Fátima. Ainda de acordo com o ACES do Médio Tejo no final de agosto a região tinha 70 mil utentes sem médico de família.