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Abrantes: Açude insuflável é motivo de estudo / Investigador avança que “ o rio e as comunidades piscícolas não estão de boa saúde”

20/03/2017 às 00:00
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A Câmara Municipal de Abrantes (CMA) e a equipa de investigadores do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, coordenada pelo investigador Bernardo Quintella, deram hoje a conhecer os trabalhos que estão a ser efetuados no âmbito da avaliação da transponibilidade do açude insuflável de Abrantes à migração piscícola.  

Em declarações à Antena Livre, Maria do Céu Albuquerque, presidente da CMA, justificou a contratação do estudo, dando conta que “é necessário concluir o processo de licenciamento do açude e para conclusão do licenciamento é preciso a instalação de um sistema de monitorização (…) É preciso fazer um trabalho de conhecimento daquilo que são as condições deste rio, das suas espécies, do seu ecossistema para permitir de facto tirar conclusões e instalar o sistema de monitorização”.

“Ao mesmo tempo há como todos sabemos alguma celeuma e alguma controvérsia acerca da instalação deste açude aqui em Abrantes com as comunidades piscatórias a montante deste local. Para que não hajam dúvidas em relação à passagem de peixes, para que tenhamos todos a certeza do que estamos a falar então nada como fazer este estudo”. Assim, “se houver alguma alteração necessária a fazer para melhorar a passagem dos peixes é claro que temos todo o interesse, não só pelo potencial socioeconómico do peixe do rio, mas também porque queremos preservar o ecossistema, garantindo todas as condições”, fez notar a presidente.

Manuel Jorge Valamatos, vereador, Bernardo Quintella, coordenador do estudo e Maria do Céu Albuquerque, presidente da CMA 

O investigador Bernardo Quintella começou por afirmar que a equipa já identificou “alguns problemas na comunidade piscícola no rio Tejo que não tem nada a ver com o açude. Detetámos a presença de espécies exóticas e também detetámos a ausência de determinadas classes dimensionais de algumas espécies que são nossas, nomeadamente o barbo, a boga, e isso indicia que o rio Tejo tem problemas”.

“Não sabemos ao certo as causas desses problemas. Poderá ser eventualmente a poluição, os reduzidos caudais, poderão ser as duas coisas em conjunto. Mas de facto uma coisa é certa, as comunidades piscícolas e o rio Tejo não estão de boa saúde e de facto é importante começar a tomar conta dessa situação”, salientou.

O estudo, já iniciado, vai ser realizado com a lampreia e o procedimento diz respeito à colocação de um transmissor (um chip) em 20 lampreias.

 “Já fizemos o procedimento a 12 lampreias que foram libertadas nas últimas duas semanas. O procedimento passa pela implementação de um transmissor que nos permite localizar a posição da lampreia no rio. Com essa informação permite-nos estudar o comportamento do animal, aqui na proximidade ao açude. Isto para perceber se o açude constitui ou não um problema à migração piscícola. Em primeiro lugar responder a essa dúvida. Em segundo lugar, a constituir-se um problema perceber o que se pode fazer para resolvê-lo”, explicou Bernardo Quintella.

Na eventualidade de se identificar um problema com a transponibilidade do açude de Abrantes, o investigador avança que “o problema pode estar relacionado com a passagem para peixe, com a sua estrutura e desenho ou com a falta de atratividade dessa passagem. Relativamente à falta de atratividade, há várias coisas que podem ser feitas inclusivamente alguma intervenção no troço a jusante para encaminhar os peixes para a margem onde foi construída a passagem”.

“Nós estamos numa fase muito prematura e inicial dos trabalhos, já temos alguns resultados mas muito incipientes. Mas uma coisa é certa, no final do trabalho vamos estar em condições de, em primeiro lugar, perceber se o açude é o problema à migração piscícola. Se o problema for ao nível da atração da passagem, não será necessariamente uma intervenção na passagem poderá ser no leito a jusante”, fez notar.

Sobre a escolha da lampreia para a concretização do estudo, Bernardo Quintella explicou que “a lampreia é uma espécie extremamente resiliente a este tipo de procedimentos, ou seja, se nós quiséssemos repetir este trabalho no sável seria muito complicado, porque é um peixe muito frágil e não aguenta este tipo de manipulação”.

A colocação do transmissor na lampreia foi demonstrada aos presentes

A lampreia “é também uma espécie que tem capacidade natatória inferior às espécies migradoras. Nós temos a garantia se de facto a lampreia conseguir transpor o açude de Abrantes garantidamente peixes como o sável, o barbo, a boga também o conseguem”.

Bernado Quintella referiu-se aos pescadores dando conta que caso algum pescador capture uma lampreia com o transmissor deve devolver o dispositivo. A entidade dará uma contribuição simbólica de dez euros. O responsável ainda salientou que “os pescadores também fazem parte do rio e é também por causa deles que estamos a fazer este estudo. Não estamos a estudar as espécies só por estudar, estamos a estudar espécies que são recursos socioeconómicos importantes”.

Por último, o investigador disse que é percetível que o estudo fique finalizado “até ao próximo mês de junho”.

Presidente da CMA refere ser prematuro avançar o investimento alocado no estudo e na manutenção do açude 

Questionada sobre o funcionamento global do açude, uma vez que o mesmo sofreu um ato de vandalismo segundo a CMA, Maria do Céu Albuquerque disse que já existe “um orçamento para fazer a intervenção, que vai ser feita com uma equipa alemã, em parceria com a empresa que fez a monitorização da instalação do açude e que a projetou. Portanto, estamos a reunir todas as condições para avançarmos com a intervenção e com isso voltar a insuflar no verão”.

“ Recordo que durante todo o inverno o açude costuma estar em baixo e que só a partir do momento em que as temperaturas começam a subir é que se insuflam as comportas”, lembrou a autarca.

Sobre o investimento global alocado ao estudo e à manutenção do açude, a presidente disse ser “ainda prematuro falar sobre isso. Será o investimento necessário suficiente para garantir todas as condições, não só para a fruição da nossa população no espelho de água, mas também para a preservação do ecossistema e das condições ambientais que daí decorrem”, finalizou.

*Reportagem radiofónica para ouvir na Antena Livre esta terça-feira às 12h00.