Vila Nova da Barquinha A recriação do “Pirilau do Frade Ambrósio” apresentada na Feira do Tejo
Dentro do mundo da doçaria conventual, são muitos os doces que se foram perdendo ao longo dos anos, mas alguns deles acabam por ser novamente reconhecidos e recriados, como foi o caso do doce convencional batizado por “Pirilau do Frade Ambrósio”.
Teresa Nicolau, da empresa Tesouro de Almourol, explica que esta marca lhes “fez suscitar o renascer da história”, e assim surgiram os licores medievais que tem o início da sua produção este mês.
“O caminho da enologia” levou Teresa Nicolau a instalar-se no município , estudou este novo mundo. “Estudei para criar os licores e os seus ingredientes”. Contudo, confessa que “um licor fica muito bem com uma doçaria” e assim começaram os estudos para se recriar um doce conventual, o que foi recriado e apresentado este fim de semana na Feira do Tejo, em Vila Nova da Barquinha, foi o “Pirilau do Frade Ambrósio”.
O estudo foi feito com base em “falar com pessoas mais velhas” e com outras pessoas “que criaram e têm algum gosto sobre a matéria” e até mesmo perceber o que “existia perto do castelo de Almourol”.
Teresa Nicolau explica que o Frade Ambrósio era uma “figura carismática” que residia no Convento do Loreto e como era natural da época, as “ordens religiosas dedicavam-se à fritura de doces conventuais”. Continua por dizer que o Frade Ambrósio “foi um criador, e criou o pirilau”.
Este doce era oferecido às “noviças do Convento de Odivelas”, o Frade Ambrósio ia até ao convento “no seu barquito” até Sacavém, onde trocava para o comboio até ao convento.
“A lenda das meninas de Odivelas” surge através desta história, Teresa explica que “quando o Frade Ambrósio lá chegava”, com a cesta dos bolos, e após tocar na “sineta” do convento, era gerada uma certa “ansiedade” entre as noviças que acabaram por batizar o bolo, “tendo em conta a forma do bolo e logicamente do seu recheio”.
“Nem a Madre escapou”, continua Teresa Nicolau ao contar que até a Madre do Convento de Odivelas entrou “na brincadeira” também ficava “muito ansiosa quando o Frade lá chegava”.
A receita foi feita com base num “estudo dos apontamentos históricos” que haviam, dos “ingredientes que o envolviam” e ainda o levar do bolo “Pirilau do Frade Ambrósio” para a “pastelaria”.
Este é um doce “conventual, com uma massa tipo brioche”, mas que Teresa confessa não poder revelar mais sobre o mesmo, a não ser uma das suas particularidades, “e que o Frade Ambrósio fez questão de por”, foi a marmelada. Este não é o único recheio do bolo, mas era o “que ele fazia questão de dizer” quando o oferecia, “que trazia o pirilau com a sua marmelada”.
Visualmente, o bolo apresenta uma forma fálica, sendo esta uma das “características que o fez” e que o levou a ser “batizado dessa forma”.
Já no que toca aos licores que acompanham estes doces conventuais, os Tesouros de Almourol, tem atualmente três licores medievais, feitos de forma artesanal, entre eles o de mel e o de castanha. Pretendem alargar a produção com mais sete licores, entre eles o de “medronho, “do zimbro”, “frutos do bosque”, e o de laranja.
Teresa Nicolau confessa que “posse desvendar um pouco” em relação à produção destes licores, são feitos “com fervura” e a partir deste momento “deixo-o repousar e arrefecer”, logo após é feita a “incorporação do fruto ou a sua infusão”. Os licores são filtrados em pano, “como era feito antigamente, não há métodos físicos nem químicos”. Acredita que “só assim faz sentido”, ou seja recriar um produto medieval “fazendo como outrora se fazia”, com algumas alterações, “aprimorando o licor aos dias de hoje”.
Foi na Feira do Tejo, entre os dias 10 e 13 de junho, que Teresa Nicolau apresentou a recriação do doce conventual, o “Pirilau do Frade Ambrósio” aos visitantes de Vila Nova da Barquinha.
Maria Francisca Carvalho