Pesquisar notícia
domingo,
16 jun 2024
PUB
Rotary Clube

A minha alma está em Coimbra mas o meu coração vive há 50 e tal anos em Abrantes (c/áudio e fotos)

23/05/2024 às 09:23
Partilhar nas redes sociais:
Facebook Twitter

São 43 anos de causas no concelho de Abrantes e limítrofes. 20 de maio de 1981 foi a data de criação oficial do clube em Abrantes, depois de terem “vindo de Tomar” uns “emissários” para promover este nascimento. E ainda há, pelo menos, dois fundadores vivos e estiveram presentes na mesa de honra do jantar, realizado no Luna Hotel de Abrantes, que assinalou o aniversário e a homenagem ao profissional do ano. Augusto Morgado e José Rodrigues mantêm-no num clube que tem como causas a promoção da paz, o combate a doenças, a promoção da água limpa e do saneamento, a promoção da saúde de mães e filhos, apoio à educação, desenvolvimento económico e a proteção do meio ambiente.

E na cerimónia de aniversário aconteceu outra que todos os anos marca o clube. Trata-se da homenagem ao profissional do ano. José Mingocho Abreu junta-se, desta forma, ao lote de homenageados, nomeadamente Silvino Alcaravela, Joaquim Candeias Silva, Mário Pissarra, José Alves Jana e Nuno Falcão Rodrigues.

Na homenagem ao profissional, a primeira mensagem lida por José Guilherme, criou momentos de emoção. Uma mensagem muito pessoal da filha da professora Margarida Mariano, que com José Abreu e Francisco Domingos, criaram a Escola de Agricultura de Mouriscas. O texto de Teresa Mariano evocou momentos dela própria com o colega da mãe, tanto em Abrantes como em visitas feitas a Moçambique.

Já António Belém Coelho, presidente em exercício, disse não ter sido aluno Eng. Abreu,mas foi aluno da esposa, professora Maria da Glória.
Depois destacou as ações que o homenageado teve, sempre com grande ligação à comunidade. Norteou-se pelo lema “dar de si antes de pensar em si”, que é o lema dos rotários. “A sua vida cabe nos valores que nós sempre temos presente.”

Sobre o clube fez uma referência aos 43 anos de muitas ações em prol de comunidade com um agradecimento aos sócios fundadores, nas pessoas dos dois presentes na sua mesa: Augusto Morgado e José Rodrigues.

 

António Belém Coelho

Luís Damas, atualmente o presidente da Associação de Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação lembrou o seu professor do “liceu”: “O professor Abreu mudou-me a vida e mudou a vida a muitas pessoas. Andei muitos anos no liceu por causa do prof. Abreu. Fiz o 12.º ano pela via de ensino e depois voltei ao 10.º ano para fazer a via profissional, que, entretanto tinha sido criada.”

E depois deixou a nota de que hoje fala-se muito em agricultura de hidroponia. “Fala-se hoje e há 30 ou 40 anos já fazíamos isso em Abrantes, nas estufas, com o professor Abreu.”

 

Luís Damas

Uma das histórias, que fica na história de Abrantes, foi levada por Humberto Lopes, que referiu que os percursos de ambos se cruzaram algumas vezes. “Ele (Eng. Abreu) era diretor da área da pecuária do Liceu e fomos à procura de um funcionário para tomar conta dos animais. Depois o tempo de criação da Escola de Agricultura. Estava na Câmara e na altura houve luta entre Golegã e Abrantes para acolher a Escola. Abrantes ganhou porque o presidente da Câmara (Eng. Bioucas) se adiantou, comprou a Herdade da Murteira. Tive oportunidade de acompanhar o processo de aquisição da quinta e em março de 1990, a Escola foi inaugurada e foi a minha primeira cerimónia oficial como presidente da Câmara de Abrantes.”

 

Humberto Lopes

Mário Pissarra disse, aos presentes, que foi José Abreu que o recebeu quando chegou a Abrantes para dar aulas. “É um comunicador excecional e um contador de histórias incrível.” Também recordou as primeiras “hidropónicas”, o Eng. Abreu foi a Israel e veio entusiasmado com essa técnica. E o primeiro ano, que não correu bem, foi com a produção de Dálias. Destacou ainda o tempo em que esteve em Moçambique e organizava, em Portugal, recolhas de material e livros para aquele país e dizia “eles cá não têm nada, tudo o que vem é aproveitado.”

 

Mário Pissarra

O Cónego José da Graça, sócio honorário do Rotary, vincou que José Abreu foi um “homem que exercia a profissão de vocação como missão. Criava uma empatia muito forte com os alunos. Chorava com os alunos, se fosse preciso. Foi um homem ligado à agricultura, em Mouriscas e em Moçambique.”

 

Cónego José da Graça

José Alves Jana referiu-se ao professor José Abreu e acrescentou que “não se espera de um professor que crie uma escola profissional, mas ele criou. Mas não se espera de um diretor que crie um sistema de ensino agrícola num país que está a nascer. Ele criou.” E depois lembrou-se dos tempos iniciais da Escola Agrícola: “lembro-me de quem estava do lado de fora a rir porque aquilo (a herdade) não dava nada não iria dar nada. Vão lá ver como aquilo está agora.”

José Alves Jana, que esteve na Guiné afirmou ter sido uma epopeia o dia em que percorreu 70 quilómetros e que demorou quatro horas. “Imagino o que foi o Zé Abreu andar por Moçambique a espalhar escolas de agricultura.”

 

José Alves Jana

Miguel Borges, o presidente da Câmara de Sardoal, apesar de ter a formação académica em música “confessou” que na sua altura do secundário entre as escolhas de desporto e agricultura, “pesou mais a agricultura porque não tinha peso para o desporto.” E relembrou a história da “compra do primeiro trator para a escola e fizemos um grande desfile em Abrantes. Fizemos um espetáculo com o José Cid levou 20 contos. O trator veio e foi batizado como ‘pampas Mingocho’”. E fez a referência à sua passagem pela política, pelo PRD. Partido Renovador Democrático.

 

Miguel Borges

Celeste Simão, vereadora com o pelouro da Educação em Abrantes, vincou o trabalho do Rotary no projeto que é “um exemplo de como fazer coisas”. Depois a referência às bolsas de estudo, em que a Câmara Municipal tem no Rotary “o parceiro certo.”.

Já sobre José Abreu, lembrou que conheceu o seu nome quando lecionava para adultos na Presa, Sardoal. E na altura os seus alunos ouviram falar da escola. Marcou-se uma visita e quando lá forma (a Mouriscas) tinham uma caixa de feijão-verde para os visitantes poderem levar, se quisessem.

 

Celeste Simão

 

Celeste Simão não esqueceu o arranque do ensino profissional: “tenho a agradecer ao Eng. Abreu a luta pelo ensino profissional que nos tanto precisamos. Passaram tantos anos e continuamos a precisar desse ensino profissional.”

O homenageado

José Mingocho de Abreu nasceu a 15 de outubro de 1947, em Coimbra.

Frequentou Engenharia Agro económica no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, licenciou-se em Engenharia de Produção Agrária (Escola Superior Agrária de Coimbra) e em Ciências da Educação (Escola Superior de Educação Almeida Garret).

Entre 1972 e 1989 foi professor de Física, Química e Biologia, Agropecuária e Produção Alimentar, no Liceu Nacional de Abrantes.

Entre 1989 e 2000 foi diretor da Escola Profissional de Agricultura de Abrantes.

2001 a 2018, como especialista em formação profissional, foi destacado para Moçambique no Âmbito da Unidade Técnica de Apoio às Escolas Profissionais de Moçambique.

  

Declarações de José Abreu aos jornalistas 


“Sou um produto das escolas que frequentei, da vida que vivi”

Depois de ouvir muitas palavras e histórias José Abreu começou por dizer: “Sou um produto das escolas que frequentei, da vida que vivi.” E vincou que a escola “alavancou-me para os voos que tive asas para voar. Mas foi a vida que me temperou para fazer de mim aquilo que eu sou. Tímido, modesto, não ambiciona protagonismos, mas não enjeita a responsabilidade de dizer presente sempre que fosse preciso.”

Explicou que os avós eram agricultores e os pais comerciantes, tinham feito um “upgrade” e que viveu numa média burguesia em que “a minha mãe queria que eu fosse médico e o meu pai queria que fosse advogado.” Mas, como em muitas coisas na vida, há sempre uma terceira via: “o meu tio Manel (agricultor) tocou-me de uma maneira que segui as suas pisadas. Fiz o curso de agricultura e também filologia românica, porque namorava uma caloira, embora proibido, que fazia esse curso.”

José Abreu contou que após sair da “tropa” veio com a mulher almoçar com o reitor do Liceu de Abrantes que lhe fez a proposta de ficar a dar aulas de física e química. “Disse que sim e não estou arrependido.”

Em 1977 aparece o ensino técnico. Houve necessidade de fazer alguma coisa e foram criadas as áreas vocacionais que em Abrantes eram pecuária e produção alimentar. Foram crescendo, até que surgiram os cursos profissionais de agropecuária e técnico florestal.

O Eng. Abreu, como era mais conhecido, lembrou que depois veio a EPAA (Escola Profissional de Agricultura de Abrantes) num conflito com a Golegã, que também a queria, e concorrência com Ponte de Sor, que também se perfilava para receber. “Tive sorte de arranjar a equipa certa no lugar certo e com o complemento uns dos outros”, ou José Abreu, Francisco Domingos e Margarida Mariano.

No dia da inauguração da escola, 20 março de 1990, estiveram os ministros da Educação, Roberto Carneiro, e da Agricultura, Arlindo Cunha. E Roberto Carneiro “disse-me ‘eu venho inaugurar um matagal ou uma escola’. Quatro anos depois voltou e pediu desculpa porque tinha mudado o matagal.”

EPAA era uma escola natureza pública, mas havia muita insegurança por não ser pública. A 12 maio 2000 a escola passou a ser escola pública e “eu tinha a minha palavra honrada, de sair apenas quando a escola passasse a pública” para segurança das pessoas que lá trabalhavam.

  

José Abreu

Depois da EPAA veio o grande desafio: Moçambique. Recebi uma proposta simples e que foi “vá ver. Diga o que se deve fazer. E depois vemos o que fazer. Fui ver e pensei: o nosso desperdício (Portugal) tinha tanta importância aqui. Fui por 3 anos e fiquei 20. Missão cumprida.”

José Abreu, nos 20 anos de Moçambique, deixou criadas 98 escolas profissionais, algumas já estão destruídas, pelo que se passa lá.

  

José Abreu

O profissional do ano para Rotary Clube de Abrantes agradeceu os cumprimentos e as referências e fechou a noite, antes do bolo e champanhe do aniversário dos rotários, a dizer: “A minha alma está em Coimbra, mas o meu coração vive já 50 e tal anos em Abrantes.”

António Belém Coelho com Augusto Morgado e José Rodrigues, fundadores do clube

Galeria de Imagens