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Setor florestal defende mais valias de reconversão da central do Pego para biomassa

25/11/2021 às 17:57
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O Fórum Florestal - Estrutura Federativa da Floresta Portuguesa defendeu hoje as mais valias do projeto de reconversão da central do Pego para biomassa, tendo alertado que a sua não implementação “poderá ser uma oportunidade perdida” para o país.

“Nós estamos a assistir com alguma preocupação ao desenlace que está a ter esta iniciativa, porque entendemos que este projeto da criação de um ‘player’ forte na fileira da biomassa podia ser muito importante para aumentar um pouco a concorrência e desse modo fazer a valorização da biomassa junto dos proprietários florestais”, disse à Lusa António Louro, presidente da direção do Fórum Florestal, relativamente ao projeto da reconversão da central a carvão do Pego, em Abrantes, (Santarém) apresentado pela Tejo Energia.

O projeto da Tejo Energia para a reconversão da central a carvão do Pego num Centro Renovável de Produção de Energia Verde, apresentado em julho ao Governo tendo este optado por abrir um concurso público (a decorrer até 17 de janeiro), passa pela eletricidade, hidrogénio e outros gases renováveis a partir de diversas fontes primárias de energia local, como a solar, eólica e resíduos florestais.

Segundo defendeu o responsável da entidade federativa que representa o maior número de associações de produtores florestais do país, também vereador da Câmara de Mação, a central do Pego, no projeto da Tejo Energia, “ainda que não preveja só como trabalhar em alturas de pico e de maior valorização da energia, pelas quantidades consumidas de biomassa podia ter um papel extremamente importante na economia da região e dos proprietários florestais”, tendo lembrado a “imensa mancha florestal e biomassa” existente, os “problemas recorrentes com incêndios” e a “desertificação e empobrecimento” do mundo rural.

“Eu não consigo ver as razões para não concordar com um projeto destes. Se há coisa que o país tem, e infelizmente, em excesso na sua paisagem, é biomassa florestal, e isso revela-se por termos cada vez verões mais quentes, e os grandes incêndios florestais, que têm muito a ver com a quantidade de biomassa acumulada na paisagem. Essa biomassa, para ser retirada, tem custos. Se nós conseguirmos criar uma fileira de valorização, poderemos consumir esta biomassa de forma controlada, valorizando-a em termos económicos, através da produção de energia elétrica. Eu penso que isto seria muito benéfico. Confundir esta utilização com a utilização de carvão e com a utilização destas tecnologias como acontecia no passado, acho que não é a forma mais adequada de olhar para esta problemática”, afirmou António Louro.

Tendo lamentado “não estar a ser dada a atenção que o projeto merecia”, e “temer que a sua não implementação seja uma oportunidade perdida”, o dirigente do Fórum Florestal lembrou que as medidas preconizadas para o futuro da floresta nacional em termos de intervenções nas faixas de gestão de combustíveis, “irão gerar quantidades de biomassa superiores à atual capacidade instalada da indústria” para a valorizar.

“Não me parece que a atual capacidade da indústria seja suficiente e nessa altura vamos chegar à conclusão que precisaríamos de central com maior capacidade para a valorizar. Ela neste momento está feita, está no Pego, tem uma linha de caminho de ferro que permite aumentar significativamente o seu raio de ação, é uma pena que não sejamos capazes de efetivamente dar este passo e perceber que realmente a central a carvão morreu, acabou, mas que agora precisamos efetivamente de pensar na nova Pego.2, que será a central de valorização energética de biomassa, aproveitando um recursos sustentável que o país utilize em alturas de pico e em que tem de utilizar energia importada”, defendeu.

Segundo o responsável, neste “início de nova etapa” é “preferível queimarmos controladamente a biomassa no Pego nas alturas que o país precisa, do que a deixarmos avolumar na paisagem e depois vê-la arder no verão, libertando de forma descontrolada o CO2 que lá está”, tendo defendido que as quantidades (…) veiculadas pela central são valores perfeitamente assimiláveis, valores por volta das 200/250 mil toneladas, pela capacidade produtiva da região” onde se insere.

António Louro

Num estudo apresentado pela Tejo Energia, datado de 2018 e a que a Lusa teve acesso, é referido que, “num raio de 70 quilómetros em volta da central, são anualmente deixadas no terreno mais de 560 mil toneladas de resíduos que seria possível serem recolhidos e valorizados”, dando ainda conta de que os resultados do mesmo “estão em linha com os já obtidos em 2008 em estudo semelhante de análise de disponibilidade de biomassa residual”.

Segundo António Louro, o aproveitamento da central do Pego para biomassa “seria benéfico para o país”, tendo feito notar que a “falta de gestão e as grandes cargas de biomassa existentes” no terreno “são autênticos barris de pólvora e não vão sair de lá”, notando que essas operações “são caras” para os proprietários.

“Este é um setor em que os ‘players’, ou os agentes, que acabam por consumir biomassa são relativamente reduzidos e temos a sensação que existe aqui uma falta de concorrência que promova a efetiva valorização da biomassa junto dos proprietários, pelo que entendemos que este projeto tinha todas as condições para fazer isso”, reiterou António Louro.

O responsável afirmou “não poder deixar de estranhar que haja outras entidades que estão também a promover outros investimentos na área das renováveis e da utilização da biomassa, e que não estão a ter este foco da atenção mediática em termos negativos que este projeto está a atrair”.

O projeto da TrustEnergy, acionista maioritário da Tejo Energia, apresentado em julho ao Governo mas sem resposta tendo sido aberto um concurso público para entrega do ponto de energia, passa por reconverter a central a carvão do Pego num Centro Renovável de Produção de Energia Verde, nas suas várias formas, entre elas a biomassa, projeto que, de forma faseada, implicaria um investimento de 900 milhões de euros

Em declarações à Lusa, o presidente executivo da TrustEnergy, José Grácio, explicou que o projeto, do qual “a empresa não desistiu”, passa pela “eletricidade, hidrogénio e outros gases renováveis a partir de diversas fontes primárias de energia local, como a solar, eólica e resíduos florestais”.

A conversão da central a carvão do Pego para resíduos florestais locais é a "solução a curto prazo para abastecimento do sistema elétrico português com energia renovável despachável" (que pode funcionar quando for necessário independentemente das condições climatéricas), e "até que soluções alternativas para a adequada integração de fontes renováveis intermitentes sejam implementadas", sendo que o modelo funcional preconizado irá incluir a utilização de outras fontes de energia de forma faseada.

Lusa