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Educação

Mação: Restaurante Pedagógico abriu portas em noite memorável. “Se isso é excelência, nós já lá estamos” – José António Almeida

7/11/2017 às 00:00
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Entramos e somos recebidos por funcionários vestidos a rigor que passam entre os convidados com bandejas recheadas de apetitosas entradas e aperitivos. Entre dois dedos de conversa e algumas provas depois, somos convidados a entrar na sala onde vai decorrer o jantar. Mais uma vez, funcionários compenetrados na sua função, mesas impecavelmente decoradas e um ambiente intimista que fazia adivinhar um agradável serão.

Curiosos para saber qual o restaurante? Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, em Mação, e os «funcionários», os alunos do Curso Profissional de Restauração, Serviço de Cozinha/Pastelaria.

Foi com toda esta pompa e circunstância que o Restaurante Pedagógico do Agrupamento abriu oficialmente mais um ano letivo, na sexta-feira, dia 3 de novembro.

José António Almeida, diretor do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, falou do significado desta abertura oficial e lembrou que o restaurante não passa de uma sala de aula.

“Não é nem mais nem menos do que uma sala de aula. É mais exigente, um bocadinho mais cuidada porque temos aqui convidados da comunidade e tentamos mostrar-lhes um bocadinho do que fazemos nesta área da cozinha e pastelaria. Recriamos aqui um restaurante de gama média alta, onde temos a oportunidade de provar algumas ementas confecionadas de forma diferente, criamos um ambiente muito interessante e, simultaneamente, formativo. Com o restaurante pedagógico, criamos um grau de exigência e de responsabilidade aos alunos e onde eles se sentem importantes. E ao olharem para o grau de satisfação das pessoas que estão sentadas à mesa, isso são prémios”, disse o diretor.

O Agrupamento conta com cerca de 700 alunos, com todos os graus de ensino, desde o pré-escolar ao ensino secundário, passando pelo ensino profissional, por cursos de educação e formação. “Só nesta área da Cozinha e Pastelaria, temos quatro turmas. Para um concelho e um agrupamento como o de Mação, é digno de registo”, afirmou José António Almeida.

Mas voltemos ao jantar. Para começar, «A salsa e o queijo».

(N.R.: Para não causar sofrimento ao leitor, apenas se publicam as fotos dos pratos sem se acrescentar qualquer outro comentário acerca da qualidade dos ditos.)

Mas nem só de comida se fez a noite. A animação musical também esteve presente e, numa noite intimista, nada melhor do que a poderosa voz de Francisca Correia. O fado invadiu a sala e os corações dos presentes, embalados pela voz da Francisca e da viola de Manuel Correia.

Para prato principal, «O pato perfumado com gengibre».

E voltámos à música, portuguesa, pois claro. Desta vez foi a vez de Paulo Rito, professor, nos presentear com uma viagem pelo cancioneiro português enquanto adivinhávamos as emoções que a sobremesa nos traria.

E eis que chegou o momento: «O dióspiro e o poejo». E fico-me por aqui.

É chegada a hora de voltarmos a prestar atenção ao trabalho que tem vindo a ser feito no Agrupamento de Escolas de Mação. José António Almeida confirmou que “temos basicamente o mesmo número de alunos que no ano anterior. Infelizmente, não vamos conseguir crescer muito mas, felizmente, no ensino secundário temos tido a capacidade de recrutar alunos dos concelhos limítrofes, fruto da qualidade que vamos mostrando na nossa formação. Vamos tentando ser cada vez mais exigentes e mais cuidados, mas estou esperançado que seja mais um ano com sucessos, num ambiente muito sereno, sem nos pormos em bicos dos pés mas conscientes de que estamos a trabalhar e a dar tudo o que temos para que os alunos tenham aqui todas as condições de trabalho”.

Uma das novidades que o diretor adiantou foi a introdução de produtos endógenos do Concelho no trabalho das equipas do Curso. “Para nós é extremamente importante. Saber que os nossos chef’s olham para a nossa realidade, identificam-se com ela, conhecem os nossos produtos e trazem-nos para o trabalho deles. Não é difícil trabalhar os nossos produtos. Agora, olhar para eles e trabalhá-los de uma forma completamente diferente, dar-lhe uma outra apresentação, permitir-lhes criar outros aromas, outras cores, outros paladares…”

Vai desafiar o público lá fora a tentar fazer o mesmo? “Claro. Esse é o nosso objetivo. Fazer com que os nossos produtos saiam valorizados. Que o nosso presunto, o mel, os vinhos… ganhem uma dimensão diferente”.

Este ano a equipa ganhou mais um elemento. “O chef Sílvio Martins, que é uma pessoa muito experiente, da região, e que veio enriquecer” o trabalho que tem vindo a ser feito.

Em maio deste ano, o Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, divulgou os resultados do relatório de avaliação externa. O Agrupamento alcançou muito bom nos três critérios de classificação: resultados; prestação de serviço educativo e liderança e gestão, distinguidos pela Inspeção Geral da Educação, no final de 2016. Quisemos saber se o objetivo deste ano é a excelência.

“O objetivo de ir à excelência, temo-lo sempre. Sabemos onde estamos inseridos e o que é ou não é realista. Mas uma coisa é certa, nós damos tudo o que temos, e às vezes o que não temos, para garantir qualidade. O que queremos é sair todos os dias da escola com a consciência tranquila, de que demos tudo para que nada faltasse a estes alunos e, felizmente, temos tido um conjunto de professores e profissionais que têm vestido a camisola e saem com essa consciência do dever cumprido. E se isso é excelência, nós já lá estamos”.

Uma das personalidades convidadas para a abertura do Restaurante Pedagógico foi Francisco Neves, delegado Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo, que agradeceu o convite para “poder estar presente nesta aula ao vivo” e falou diretamente aos alunos, a quem deu os parabéns “pelo trabalho feito antes e durante para que pudéssemos estar aqui todos de alma cheia e muitíssimo agradados com aquilo que nos foi servido. Reflete o bom trabalho dos vossos mestres e a vossa boa aprendizagem”. O delegado Regional elogiou ainda as instalações criadas e disse que “esta Escola não fica atrás de nenhuma que eu conheço, mesmo na Grande Lisboa, (…) nem de nenhum restaurante”.

E deixou-lhes uma mensagem: “Aproveitem esta qualidade do ensino que aqui é ministrado, que se tornem esses bons profissionais que vocês querem ser e que os diferentes estabelecimentos onde se faz restauração esperem que vocês cheguem (…) Tenham orgulho na formação que estão a fazer”.

Francisco Neves deixou ainda o alerta de que “já lá vai o tempo em que se considerava que um curso profissional, ou um curso CEF ou um vocacional, eram cursos destinados a alunos com menos competências, menos capacidades ou menos aptidões. Isso é completamente falso”.

O delegado Regional deixou ainda o pedido: “Espero que, para o ano, me convidem novamente”.

Vasco Estrela, presidente da Câmara Municipal de Mação, foi outra das personalidades presentes. O autarca relembrou que o restaurante pedagógico “começa a ter, felizmente, alguma tradição nesta Escola e, consequentemente, no nosso Concelho, e isso é sinal do trabalho de excelência que aqui está a ser feito ao longo dos anos”.

O presidente destacou o facto de “ter sido possível que os alunos que aqui são formados tenham tido colocação no mercado de trabalho” e garantiu que, “da parte da Câmara Municipal de Mação, continuaremos como até aqui a apoiar o Agrupamento de Escolas, neste curso em concreto, sem escamotear aquilo que são as competências de cada uma das entidades mas sabendo nós que muitas vezes ultrapassamos a linha em que deveríamos ficar”.

Vasco Estrela não esqueceu os artistas da noite e agradeceu à Francisca, “minha prima, e ao meu padrinho (Manuel Correia), que aqui vieram demonstrar que, na arte da música, também temos pessoas do nosso Concelho que possam orgulhar esta terra”.

Um dos rostos da noite foi Bárbara Vieira, chef e formadora na escola de Mação. Falou-nos dos desafios para mais um ano letivos e também das expetativas: “Muitas!”

“Estou muito contente com o grupo de trabalho que se está a formar este ano. Temos quatro turmas de restauração e cozinha onde temos uma turma de CEF (Cursos de Educação e Formação) que está a surpreender muito pela positiva. Tem muito a ver com as influências dos outros alunos, das outras turmas. Não se veem como uma turma CEF, pelo contrário, e já vêm com uma dinâmica de querer aprender. Isso está a fazer com que o grupo de trabalho seja muito homogéneo e funciona”.

Visivelmente satisfeita, informou-nos que o balanço da noite foi “muito positivo. Não só pelo ambiente que foi criado, não só pelas pessoas que já conhecem um bocadinho, e isso ajuda, mas porque a sala acaba por ser o espelho do que fazemos no backoffice e penso que foi agradável”.

Quanto ao desafio dos produtos endógenos lançado pelo diretor, Bárbara Vieira confirmou que “é um desafio muito, muito grande pois temos produtos de muita qualidade e dá-nos a sensação, a mim, pelo menos, que venho de Leiria, de que falta o conhecimento dos produtos daqui. Não é só o queijo, o azeite ou o mel, porque nós conseguimos transformá-los, mas outros produtos que são a marca de Mação. Não vai ser só nas sobremesas que vamos tentar enquadrá-los, é também nos pratos salgados”.

“É levar a marca Mação um bocadinho para fora deste limite geográfico”, disse a chef.

O vinho da Chave Dourada vai ser o próximo desafio. “Já temos a ideia pré-concebida, já temos a matéria-prima e vão surgir em breve umas duas ou três tentativas”.

                        Os chef's Raquel Rosa, Sílvio Martins e Bárbara Vieira

Ficaremos a aguardar pelas novidades mas, entretanto, agradecemos o magnífico serão de sexta-feira e, tal como Francisco Neves, apelamos a que, para o ano, nos convidem novamente.

Patrícia Seixas